28.12.11

Google causa turbulência no setor aéreo com busca de voos



A mais nova iniciativa da Google Inc. no setor de viagens on-line já começou a chacoalhar o setor, o mais recente exemplo da capacidade da empresa americana de internet de estender seu poder de mercado a aspectos cada vez mais diversificados da economia.

Os concorrentes dizem que a Google está abusando do seu poder em pesquisas na internet, para ganhar influência sobre o mercado de viagens on-line, de US$ 110 bilhões de dólares.

Este mês, a empresa passou a colocar o seu serviço de busca de voos acima dos resultados gerais da busca, de forma que seus próprios resultados aparecem com destaque na tela, acima dos links dos maiores do setor, entre eles a Expedia Inc., a Orbitz Worldwide Inc. e a Priceline.com. Inc.

Buscas via Google com palavras-chave tais como “NY”ou “LA” agora trazem um gráfico interativo alimentado pelo próprio site com as tarifas mais baratas entre as duas cidades. A ferramenta de voos do Google faz a conexão diretamente com os sites das companhias aéreas.

Links para os principais intermediários são puxados para baixo. Esses sites obtêm de 10% a 20% de seu tráfego através do Google, de acordo com a empresa de análise de sites Compete Inc.

A maneira como o Google faz rankings e buscas se tornou crucial para o comércio moderno, no qual o site de pesquisas se tornou uma espécie de porteiro do comércio on-line. No passado, o Google se limitava a exibir resultados de busca, mas a empresa de 13 anos de existência está cada vez mais imiscuindo seu site nesses mercados também, oferecendo desde música digital até ofertas de varejo local.

De várias formas, a empresa ainda está aprendendo como equilibrar as demandas conflitantes de ser, ao mesmo tempo, um árbitro de buscas e um concorrente de mercado.

No ano passado, a Google foi alvo de investigações antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos por seus planos de adquirir a ITA Software Inc., uma empresa de dados de voos que alimenta a nova ferramenta do Google.com e também a de alguns de seus concorrentes, entre eles a Orbitz e a Kayak Interactive Corp. Essas empresas se opuseram ao negócio da Google com a ITA.

A Google acabou fazendo uma série de concessões antes de o Departamento de Justiça dar o sinal o verde em abril, e aceitou disponibilizar os dados de viagem para os concorrentes. Embora não tenha sido exigido que a ferramenta de busca fizesse o link diretamente para os sites de viagem, a Google enfatizou que iria “construir ferramentas que levassem mais tráfego para as companhias aéreas e para os sites das agências de viagens”. Os concorrentes dizem que a Google está agora violando o espírito desse acordo.

A Google admite que não cumpriu a promessa de que colocaria o link para os sites de viagens, mas alega que não teve alternativa. “As empresas aéreas nos disseram que não iriam nos passar [informações de viagem], se nós colocássemos links para as agências on-line de viagem”, Jeremy Wertheimer, fundador da ITA e hoje um vice-presidente de engenharia da Google, disse no mês passado em uma conferência sobre viagens on-line.

Ele também disse que a Google quer incluir os sites de viagem e “nós vamos continuar batendo nessa porta para ver se as coisas mudam”. Um porta-voz da Google se recusou a comentar.

Não há sinais de que os consumidores estejam sendo prejudicados pelas novas características do Google.

Buscas idênticas feitas no site da Google e em outros grandes sites de viagens quase sempre trazem a mesma tarifa mais baixa. O Bing, da Microsoft, que tem menos de um quarto dos usuários do Google, também coloca sua própria ferramenta de buscas de voos acima dos demais resultados de busca.

O Departamento de Justiça se recusou a comentar.

As buscas de voos feitas no Google são uma dádiva para as companhias aéreas que há muito tempo tentam reduzir o tráfego direcionado aos sites de viagens, que cobram das empresas de aviação pelas reservas. No ano passado, esses sites foram responsáveis por US$ 17,5 bilhões, ou quase um terço dos voos reservados pela internet, de acordo com a empresa de pesquisas de viagens PhoCusWright.

Para as companhias aéreas, custa mais de US$ 11 para processar uma reserva de viagem feita por uma agência pela internet, e menos de US$ 1 por reserva feita em seu próprio site, disse Henry Harteveldt, analista da Atmosphere Research.

O Google exibe links para as companhias aéreas na forma de anúncios, mas a empresa se recusou a informar quanto ganha com esse acordo.

A AMR Corp., controladora da American Airlines, exige que os sites de buscas de voos que não vendem passagens, como o Kayak, incluam somente links de reserva para a própria AA.com, evitando assim as agências de viagem on-line. “Nós e os consumidores ganhamos mais se conseguimos reduzir os nossos custos para oferecer tarifas mais baixas”, disse um porta-voz da AMR.

As maiores companhias áreas do mundo por volume de tráfego, a United Continental Holdings Inc. e a Delta Air Lines Inc., se recusaram a comentar. A Airlines for America, organização setorial das companhias aéreas dos EUA, também não quis fazer comentários.

Robert Birge, diretor de marketing da Kayak, disse que, embora a Google possa não estar infringindo a lei, está quebrando a promessa de incluir os links para os sites de viagens.

“É preocupante que, durante as investigações do governo, eles tenham dito isso como um argumento central e que agora estejam simplesmente ignorando”, disse ele. “Seria bom que uma empresa que se coloca como uma luz para a moralidade corporativa, de fato, cumprisse o que diz.”

Este ano, a Google tentou evitar que sites de “baixa qualidade” aparecessem no topo da página de resultado de buscas. Vários desses sites começaram a se queixar de que estavam sendo discriminados no Google, embora outros tenham elogiado a melhora dos resultados.

Executivos da Google há muito tempo vêm alegando que mudanças no sistema de buscas são feitas para beneficiar as pessoas que o utilizam, e não para agradar ou punir sites específicos. Em conversas com reguladores e congressistas, a Google com frequência se referiu a uma decisão da justiça federal dos EUA, em 2003, de que os resultados de busca de seu site são “opiniões”e que merecem “plena proteção constitucional”.

A FTC, agência do governo americano para questões comerciais, está há seis meses investigando as práticas da Google. Este mês, líderes do sub-comitê antitruste do Senado levantaram questões sobre a capacidade da empresa de se manter como uma ferramenta de buscas neutra, ao mesmo tempo em que oferece seus próprios produtos, tais como a ferramenta de buscas de voos, “da qual a empresa recebe receitas de publicidade significativas.”

Em uma resposta por escrito ao comitê no mês passado, o presidente do conselho da Google, Eric Schmidt, defendeu a oferta de produtos pela Google, alegando que o objetivo fundamental da empresa é “conectar os usuários às informações que eles buscam”.

http://goo.gl/XIKK0

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