Nova rotina no aeroporto preocupa viajantes e funcionários
O saguão vazio, a sequência de guichês fechados e os painéis apagados antecipavam, ontem, o futuro de cerca de 90 mil metros quadrados do Aeroporto Internacional Tom Jobim/Galeão. A partir do fim de novembro, os serviços para passageiros no Terminal 1, aberto em 1977, serão desativados, apesar de ter sofrido uma série de melhorias para a Copa do Mundo e a Olimpíada. A mudança centralizará no Terminal 2 — mais novo, de 1999 — toda a operação de check-in, despacho e restituição de bagagens, seja em voos nacionais ou internacionais, das 24 companhias aéreas que operam no Galeão. Uma nova rota que preocupa os viajantes, temerosos de transtornos no embarque e desembarque concentrados numa única área. Mas a concessionária RIOgaleão diz que resolverá o problema da capacidade ociosa do aeroporto.
No Terminal 1, afirma o grupo — formado em 49% pela Infraero e 51% divididos entre a Odebrecht Transport e a Changi Airports International, de Cingapura — continuarão funcionando apenas as pontes de embarque para as aeronaves, o centro de operações, o estacionamento e serviços como bancos e o posto para emissão de passaportes da Polícia Federal. Antes de voar, no entanto, todos os passageiros terão de se dirigir ao Terminal 2 para, então, acessar os portões de embarque, localizados num dos dois terminais ou no Píer Sul, expansão adjacente ao Terminal 2 inaugurada em maio deste ano, com mais de cem mil metros quadrados.
— Acredito que será uma loucura concentrar as companhias num único terminal. E nos dias em que houver atrasos nos voos? Não quero ver como ficará o Terminal 2 — dizia Raul Santos, que acompanhava uma passageira ontem no Galeão.
Apreensão compartilhada com Daiane Camila Ferreira, que, trabalhando no aeroporto, já acompanhou muitos episódios de filas e saguões lotados.
— Será uma confusão, com certeza. Mesmo em dias normais, as filas às vezes são enormes. Em vez de construir o Píer Sul, por que, então, não investiram na modernização do Terminal 1, que já estava pronto? — questionava ela.
FECHAMENTO GRADATIVO
Apesar de a desativação estar marcada para o mês que vem, desde o primeiro trimestre deste ano o Terminal 1 já vinha sendo esvaziado. O processo de transferência de companhias aéreas para o Terminal 2, segundo o RIOgaleão, começou em março, com empresas como Alitalia, Aerolíneas Argentinas, Copa Airlines e Avianca. No último domingo, foi a vez dos voos internacionais da Gol. No momento, só o check-in da Azul e dos voos domésticos da Gol são mantidos no Terminal 1, com previsão de serem deslocados até 22 de novembro.
Com poucas companhias operando no terminal — e concentradas apenas num setor, o B —, o cenário no embarque ontem em nada lembrava a superlotação do passado. Numa ala C desocupada, banheiros já estavam fechados. No setor A, reformado pela Infraero antes da concessão, até as lixeiras estavam sendo recolhidas.
Quando a transferência de companhias estiver concluída, diz Antonio Carlos Pinto, diretor de engenharia do RIOgaleão, ainda não se sabe que destino será dado à área desativada (cerca da metade dos 180 mil metros quadrados do terminal). Segundo ele, o setor comercial do aeroporto desenvolve estudos para utilização do espaço, sem descartar a possibilidade de instalar lojas e serviços como academias de ginástica no lugar.
— Num futuro próximo, o Terminal 1 vai ter que ser reaberto. Jamais pensamos em abrir mão dele. Mas, agora, ele será fechado, primeiro, porque a demanda de passageiros hoje não justifica mantê-lo em funcionamento. Isso já estava em nosso plano diretor, desde quando participamos do leilão de concessão, em 2013 — diz ele.
Ele afirma que, hoje, o Tom Jobim recebe aproximadamente 17 milhões de passageiros por ano, com uma demanda que se mantém parecida desde 2014. Para a operação prevista a partir de novembro, diz ele, incluindo parte do Terminal 2 aberta para a Olimpíada, a capacidade do Galeão será de em torno de 30 milhões passageiros por ano, com 174 balcões de check-in e sistema de bagagem ampliado.
— Os passageiros não enfrentarão problemas. Nos últimos meses, o processo gradativo de transferência de companhias nos dá segurança de que o Terminal 2 tem capacidade para absorver o volume de passageiros. Durante os Jogos Olímpicos, com a grande maioria dos voos internacionais nele, tivemos dias completamente atípicos. O aeroporto foi posto à prova, e deu tudo certo — afirma Antonio Carlos.
ANAC EXIGIRÁ MANUTENÇÃO DE QUALIDADE
Questionado a respeito do Píer Sul, o diretor de engenharia do RIOgaleão afirmou que a construção era uma obrigação da concessão do aeroporto, num pacote de R$ 2 bilhões em melhorias na atual fase do contrato. Não havia a opção de não construí-lo, com 26 novos portões de embarque, diz ele. Mas, sobre a utilização do Terminal 1, afirma Antonio Carlos, a concessão não detalha compromissos específicos.
— O contrato é silencioso em relação ao terminal. É omisso — afirma.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), no entanto, afirma que é prevista, durante toda a atual fase de realização do contrato, a manutenção da qualidade do serviço oferecido aos passageiros, conforme estabelecido no Plano de Exploração Aeroportuária (PEA).
“Nesse sentido, apesar da liberdade de gestão operacional que o contrato de concessão de aeroportos apresenta, caso haja redução de áreas operacionais para o atendimento de passageiros, esta deve ser avaliada de forma que a demanda ao usuário seja atendida mantendo-se o nível de serviço estabelecido em contrato”, afirmou a agência em nota.
Apesar do receio dos passageiros, Elton Fernandes, professor de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ afirma que a decisão de otimizar a operação do Galeão no Terminal 2 seria correta, sobretudo diante da perspectiva de demanda atual do aeroporto, das incertezas econômicas do setor aéreo e das dificuldades financeiras da própria concessionária — em agosto deste ano, o ministro dos Transportes, Portos e Aviação, Maurício Quintella, já tinha dito ao GLOBO que o Galeão não gerava receitas suficientes para cobrir o pagamento anual de R$ 1 bilhão de outorga à União e um empréstimo no mesmo valor com o BNDES.
— É uma pena desativar uma área que tenha recebido recursos para reformas nos últimos anos. Mas a concessionária precisa procurar alternativas de renda. Uma solução seria trazer um hub de companhia aérea para o terminal, apesar do cenário difícil atual. Por outro lado, o Rio precisa atrair mais voos e procurar uma demanda qualificada, descobrir um nicho de mercado diferente, por exemplo, de São Paulo — ressalta o especialista.
SEM PASSAGEIROS, PORTAS ARRIADAS
Enquanto não se encontra uma solução, o que decolam são as dúvidas dos empresários que têm estabelecimentos dentro do Terminal 1, como restaurantes e lojas. Alguns já fecharam as portas. A maioria dos que resistem, dizem os comerciantes, deve fechar as portas, sem capacidade de pagar os aluguéis no Píer Sul, mais caros. Há casos como o de um salão de beleza que abriu em janeiro deste ano, com futuro ainda indefinido. E até o tradicional restaurante Demoiselle, que abriu em 1977, junto com o Terminal 1, pode encerrar as atividades. No aeroporto, repetem-se histórias de funcionários que trabalham com aviso prévio.
— A partir do dia 22 de novembro estou desempregada. Grandes redes estão conseguindo ir para o Terminal 2 ou o Píer Sul. Lojas pequenas não. A que eu trabalho vai fechar. Há meses o movimento já tinha caído muito. A queda foi de pelo menos 50%. Já teve dia de a primeira venda acontecer às 13h — diz Beatriz Gomes, vendedora em uma loja de souvenires e roupas próxima aos guichês de check-in do Terminal 1.
http://oglobo.globo.com/rio/terminal-1-do-galeao-sera-desativado-no-mes-que-vem-20358313
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