Quando Confins foi arrematado em 2014, a concessionária BH
Airport se comprometeu a construir uma segunda pista até 2020, ou então quando
o total de pousos e decolagens atingisse 198 mil operações por ano. Em 2016,
foram 99,5 mil operações. Como o movimento está na metade, 2020 chegará antes.
Entretanto, com a onda de devolução de concessões, a concessionária pode pedir
uma revisão contratual para ser dispensada dessa obrigação.
Tanto a Invepar, que devolveu o trecho entre Juiz de Fora e
Brasília da BR–040, quanto a concessionária que devolveu Viracopos, alegaram
que, com a crise, as expectativas de demanda de usuários não se concretizaram.
Ambas as devoluções estão respaldadas pela lei 13.448, que permite a
relicitação de empreendimentos. Se quiser, a BH Airport também pode se valer da
mesma justificativa.
Em 2014, a expectativa de aumento de passageiros era tão
alta que a concessionária pagou R$ 1,82 bilhão por Confins, 66% a mais do que o
lance mínimo. Naquele ano, passaram por lá 10,9 milhões de passageiros. No
exercício passado, o movimento caiu para 9,6 milhões.
Questionada sobre a possibilidade de solicitar a dispensa da
obrigação de construir uma segunda pista, já que o aeroporto está pronto para
receber 22 milhões de passageiros, mas tem recebido metade, a BH Airport disse
que segue cumprindo o cronograma de atividades conforme prevê o contrato de
concessão. Mas afirma que, legalmente, o contrato prevê revisão extraordinária.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) destaca que a concessionária pode
solicitar, a qualquer tempo, desde que fundamentadas, alterações no contrato de
concessão. “O trabalho da Anac consiste em avaliar a pertinência da solicitação
para aprovar ou não o pedido”, esclarece a agência.
O especialista em transportes Marcus Quintella, professor da
Fundação Getulio Vargas (FGV/IBS), afirma que é possível uma briga na Justiça
para tentar uma revisão no contrato. Entretanto, ele ressalta que, quando uma
empresa arremata uma rodovia ou um aeroporto, todos os riscos mercadológicos
têm que ser considerados.
“É uma questão muito complexa. Entendo que, sempre que
aparece algum fato que não pode ser previsto, é válido pedir um reequilíbrio
financeiro. Mas, se fosse para ter total garantia de lucro, qualquer uma
poderia arrematar e, se desse errado, era só devolver. Certamente, as premissas
na época dos leilões foram superdimensionadas, pois o país estava com uma
conjuntura favorável, mas não dá para garantir a demanda”, explica Quintella.
Na opinião do especialista, tanto a BH Airport como qualquer
outra concessionária pode desistir de uma concessão. “O problema é que quem
sofre com essas devoluções é a sociedade, que fica sem os investimentos para
melhorar a qualidade das rodovias e dos aeroportos. O governo não pode deixar
isso acontecer. Tem que ter mobilização por meio das agências reguladoras e do
Ministério Público”, alerta.
http://www.otempo.com.br/capa/economia/confins-pode-ficar-sem-nova-pista-por-falta-de-demanda-1.1520152
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