A alemã Fraport e a francesa Vinci, maiores destaques do leilão de ontem, terão que assinar cheques de aproximadamente € 200 milhões cada para pagar a parcela à vista de outorga dos aeroportos arrematados. Não é um dinheiro que se encontra perdido no chão, mas também não chega a ser exatamente uma bolada para as gigantes europeias, acostumadas a números bem mais gordos em seus balanços.
Mais do que uma pechincha, no entanto, as duas operadoras devem ter visto no certame a oportunidade de fazer uma "degustação" de Brasil para avaliar passos mais ousados no futuro.
Administrar ativos em infraestrutura envolve incertezas típicas de um mercado excessivamente regulado e de um país cheio de burocracias. Estrangeiros que já entraram na gestão de aeroportos, em rodadas anteriores de licitações, ficaram assustados com a dificuldade em resolver problemas aparentemente simples, como licenças do Corpo de Bombeiros (o Galeão não tinha alvará vigente quando foi privatizado) e plantas dos terminais (a Infraero havia perdido o mapa hidráulico do aeroporto de Brasília e a concessionária precisou interromper uma pequena obra no terminal para não correr o risco absurdo de perfurar algum cano indevidamente).
Conhecer os caminhos da máquina brasileira e os hábitos de consumo dos passageiros pode ter sido uma das grandes motivações da Fraport e da Vinci. Não há abundância de ativos aeroportuários sendo ofertados atualmente no mercado global e o leilão organizado pelo governo Michel Temer era certamente uma chance de expandir negócios, mas Fortaleza, Salvador ou Porto Alegre estão longe de constituir o objetivo final na estratégia de operação das duas empresas europeias.
Mais dia, menos dia, a expectativa do mercado é que Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ) as duas "joias" mantidas com a Infraero serão privatizados. Além disso, o mercado secundário anda repleto de ofertas: Viracopos (SP) está à venda e a Odebrecht busca um substituto para o controle do Galeão (RJ). A Infraero pretende se desfazer da fatia de 49% que manteve nos aeroportos concedidos por Dilma Rousseff.
A entrada da Fraport na operação dos aeroportos brasileiros era antigo objeto de desejo em Brasília. Seja no governo Dilma Rousseff ou na gestão Temer, o grupo alemão sempre foi um dos preferidos do Palácio do Planalto para assumir os terminais privatizados.
Houve decepção, entre auxiliares da expresidente, quando a Fraport ficou sem levar nenhum ativo nas duas primeiras rodadas de concessões do setor. Ela até chegou perto: em parceria com a EcoRodovias, terminou em segundo nas disputas por Guarulhos (SP) e pelo Galeão (RJ). Tanto que, sem nenhum processo de concorrência formal, a Fraport foi escolhida pela Infraero para formar uma nova subsidiária da estatal: a Infraero Serviços, anunciada no fim de 2012, que cuidará de aeroportos regionais e cuja ideia foi mantida por Temer.
Além de operar o aeroporto de Frankfurt, onde tem suas origens, a Fraport administra terminais como Delhi (Índia), Lima (Peru) e São Petersburgo (Rússia). A Vinci está à frente de aeroportos de médio porte na França e arrematou os aeroportos de Portugal, incluindo Lisboa e Porto, em leilão. Opera ainda os principais aeroportos do Chile (Santiago) e da República Dominicana (Santo Domingo).
Fonte: Valor Econômico
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