21.5.08

CRISE GERA AERO GIGANTE por Roberto Pereira

A História dos Estados Unidos da América mostra que aquele país age melhor quando se sente ameaçado por problemas internos ou externos, e que suas crises provocam sempre o aparecimento de gigantes industriais ou comerciais difíceis de bater. O século XX foi cheio de exemplos desse tipo: a crise econômica de 1929, o ataque a Pearl Harbor, a Guerra Fria e a Corrida para a Lua.

Hoje a ameaça é da crise energética, quando o elevado preço dos combustíveis de petróleo ameaça a própria estrutura de sociedade norte-americana, totalmente apoiada em elevados índices de consumo energético. Os americanos têm petróleo, mas não o suficiente para as suas necessidades, e agora precisam brigar pelo excedente num mercado onde cada galão é vendido a preço de ouro. A aviação, que tinha sido abalada pelos ataques terroristas, não ficou imune a esse impacto e não fosse à existência de uma legislação que protege os investimentos empresariais e os mercados trabalhistas, muita companhia grande já teria ido à falência.

Mas bem ao jeito norte-americano, se o problema existe a melhor maneira de sair dele é enfrentando-o com armas iguais. E para a aviação dos EUA, "armas iguais" podem ser traduzidas pelo gigantismo da economia de escala. Ou seja: se duas empresas não conseguem brigar sozinhas, juntam-se. E se ainda assim não têm meios para a luta, juntam-se com outras, até formar um grupo gigante, que dispõe de meios para enfrentar a ameaça de mercado. Já tinha acontecido antes com os fabricantes Mc Donnell/Douglas e Boeing e agora se repete com as empresas aéreas Delta e Northwest.

Ambas estavam ameaçadas pela recessão econômica norte-americana, pela concorrência crescente das rivais européias agora de passe livre no mercado dos EUA pelo acordo de céus abertos e pelo galão de querosene aeronáutico a US$ 3. E decidiram que juntar forças seria melhor que uma concorrência predatória em casa. Caso a anunciada fusão se concretize (falta ainda acertar detalhes legais) a gigante que nascerá será a segunda maior do mundo em termos de em faturamento depois do grupo Air France/KLM, e a maior pelo número de passageiros transportados.

Seu faturamento combinado anual será de US$ 31,7 bilhões. Discutida desde 2007, quando ambas saíram da condição pré-falimentar do Chapter 11, essa fusão vai trazer óbvias vantagens no mercado, mas também problemas delicados como a junção de firmas com métodos administrativos diversos, frotas diferentes e linhas em áreas onde nem sempre as duas tinham interesse em separado. Será preciso cortar pessoal, retreinar outros funcionários, brigar com sindicatos de classe, verificar prioridades e rediscutir acordos com fornecedores e terceiros. Mas sempre será uma saída melhor que um duplo suicídio mercadológico. Pela própria filosofia de trabalho dos norte-americanos, eles podem estar novamente dando ao mundo uma lição de como buscar saídas criativas na hora da adversidade.

Como disse Jim Oberstar, Presidente da Comissão dos Transportes do Congresso dos EUA, "talvez seja a mais forte comoção no setor da aviação comercial desde que foi votada a desregulamentação, em 1978. Mas se essa fusão der certo, outras logo virão em seguida".

Fonte: Aerobusiness

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