4.8.08

"El apagón aéreo"

Depois do Brasil, é a vez de a Argentina enfrentar o caos na aviação e reestatizar sua maior companhia

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O EFEITO ORLOFF SE INVERTEU. SE A HISTÓRIA mostra o Brasil na rabeira das crises argentinas, desta vez foram eles que copiaram a desastrada experiência brasileira no setor aéreo. O jornal Clarín, que há dois anos estampou na capa: "Cresce el caos aéreo en Brasil", na semana passada mudou apenas a palavra Brasil por Argentina. A crise é tão grave na maior empresa aérea do país, a Aerolíneas Argentinas, que o gerente- geral da companhia, Julio Alak, declarou que "não dá para esperar soluções mágicas". A dívida é de US$ 890 milhões, 60% das aeronaves estão paradas por falta de manutenção e os pagamentos previdenciários estão atrasados. Curioso é que a quebra anunciada da Aerolíneas lembra, e muito, o caso Varig.

Dominando 83% do mercado interno e com 52% das viagens internacionais, a companhia tem um histórico de pouco compromisso financeiro e gastos excessivos. Desde a privatização em 1991, a Aerolíneas já sofreu cinco intervenções judiciais. Passou das mãos da Iberia para o grupo espanhol Marsans e, no final de setembro, voltará inteiramente para as mãos do Estado. A presidente Cristina Kirchner resolveu reestatizar a empresa para evitar a falência. Atualmente, o governo detém 5% das ações da companhia e os espanhóis, 95%. Mas, de acordo com projeto de lei do Executivo encaminhado ao Congresso, no último dia 22, o Marsans tem 60 dias para transferir suas ações para o Estado. A reestatização também inclui a aquisição da subsidiária Austral, que opera vôos domésticos, e a absorção de todas as dívidas pelo governo. Como não precisarão assumir o passivo, os espanhóis não reclamaram. "O Estado tomou a decisão para garantir o serviço e a subsistência da companhia aérea", afirmou Cristina em cadeia nacional de TV.

As histórias da Aerolíneas Argentinas e da Varig também se confundem no desespero do governo para evitar a falência da empresa ícone do país. Cristina lembrou que a primeira vez que andou de avião foi em uma aeronave da Aerolíneas. Os Kirchners, então, tentaram que o empresário argentino Juan Carlos López Mena, presidente da empresa Buquebus, adquirisse dos espanhóis 37% do controle da Aerolineas. Ele chegou a um acordo com o presidente da Marsans, Gonzalo Pascual, para ficar com 33,4%, mas a deterioração das contas da companhia levou o governo a reestatizá-la. Agora, a primeira providência da Casa Rosada será tentar revitalizar a empresa.

"A partir disso, vamos ver se transferimos uma parte das ações por licitação nacional e internacional", explicou Ricardo Jaime, secretário de Transporte argentino. Por aqui, o governo brasileiro chegou a reunir TAM e Gol pedindo para que elas se unissem na compra da Varig. Como a idéia não saiu do papel, a Varig se enquadrou na Nova Lei de Falências, separando a parte podre (as dívidas) da Nova Varig. No ano passado, a Gol pagou US$ 320 milhões pela Nova Varig, sem dívidas. "A Gol está livre de qualquer contaminação de passivo", garantiu na época o presidente da empresa, Constantino de Oliveira Júnior.

Outra coincidência é que tanto a Aerolíneas Argentinas quanto a Varig quebraram por má gestão. No caso da companhia argentina, a crise foi intensificada pela decisão do governo espanhol de se retirar das negociações. Havia uma promessa de compra da Aerolíneas, para se criar uma megaempresa ibero-americana, mas os compradores desistiram. Analistas avaliam que esse é mais um exemplo do plano velado de nacionalização do casal Kirchner, que tenta reverter as privatizações feitas no governo de Carlos Menem, quando várias empresas foram vendidas para investidores estrangeiros. Recentemente, a YPF, maior petroleira do País, controlada pela espanhola Repsol, vendeu 15% do capital da empresa para um empresário argentino. Também foram para mãos argentinas a concessionária de água e saneamento Águas de Valencia (Avsa), que pertencia ao grupo francês Suez. Na imprensa portenha especula- se que o governo estaria predisposto a rever a concessão da concessionária de gás Metrogas e da de energia elétrica da Edesur.

Fonte: Isto É

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