Depois de liberar o Santos Dumont para voos além da ponte aérea Rio-São Paulo, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) deverá reabrir o aeroporto da Pampulha para as grandes companhias, em uma iniciativa que enfrenta forte oposição do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB).
O extinto Departamento de Aviação Civil (DAC) limitou o uso do aeroporto central de Belo Horizonte, em uma portaria editada em março de 2005, à aviação executiva ou a ligações comerciais feitas com turboélices para até 50 passageiros. Na prática, a medida expulsou as empresas de maior porte e desativou voos da Pampulha para outras capitais.
A agência praticamente concluiu os estudos técnicos para a expansão operacional do aeroporto mineiro, em um processo que seguirá os mesmos trâmites da liberação do Santos Dumont: o processo será colocado em audiência pública, provavelmente ainda no primeiro semestre, e a decisão da diretoria da Anac ocorrerá após o recebimento de contribuições dos interessados.
Aécio aproveitou uma visita à Cidade Administrativa, onde está sendo construída a nova sede do governo de Minas Gerais, para criticar essa possibilidade. Ele disse já ter protestado ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, e prometeu uma "ação vigorosa" para manter somente voos regionais na Pampulha.
O governador mineiro lembrou que houve criação de ligações internacionais a partir do aeroporto de Confins, nos últimos anos, e qualificou como "retrocesso" a postura da agência.
"Os voos diretos para outros Estados devem sair de Confins porque isso viabilizou a vinda para BH de voos internacionais que nós não tínhamos", disse Aécio, segundo entrevista distribuída por sua assessoria.
"Hoje são mais de 50 saídas semanais. E elas só chegam a Confins porque ele é um "hub" de distribuição para outros Estados. Quando permitirmos que esses voos diretos, seja para o Rio, São Paulo ou outras capitais saiam da Pampulha, não é uma companhia apenas que vai querer esse privilégio. Isso desmonta o "hub" de distribuição dos voos internacionais", afirmou Aécio.
A justificativa da Anac tem base legal. Segundo a agência, a lei de sua criação, publicada em setembro de 2005, permite às empresas explorar "quaisquer linhas aéreas, observada (sic) exclusivamente a capacidade operacional de cada aeroporto e as normas regulamentares de prestação de serviço adequado expedidas pela Anac". Seria ilegal e artificial, do ponto de vista do regulador, fazer restrições à aviação comercial se não há obstáculos da pista e do terminal para as suas operações.
O presidente da Azul, Pedro Janot, disse ontem ao Valor que tem muito interesse em voar desde Pampulha, fazendo o trajeto entre Belo Horizonte e Rio. Assim que a Anac liberar Pampulha, a Azul apresentará suas propostas de voo, disse Janot.
No caso da Pampulha, a grande diferença em relação ao Santos Dumont é a baixa capacidade do terminal, que comportaria a movimentação simultânea de apenas 400 passageiros - o equivalente a pouco mais de dois A320 ou 737-800 cheios. Portanto, a liberação do aeroporto mineiro deve gerar um acréscimo de sua exploração menor do que a medida para o Santos Dumont, mas será suficiente para permitir a volta dos voos para outras capitais, inclusive a seus aeroportos mais centrais, como Congonhas.
Quanto à polêmica envolvendo o aeroporto carioca, a Anac preferiu o silêncio e evitou ontem responder ao governador do Rio, Sérgio Cabral.
Uma fonte da agência informou que as companhias aéreas serão convocadas a uma reunião, ainda sem data marcada, para discutir como os "slots" (faixas de horário para pousos e decolagens) livres no Santos Dumont vão ser alocados.
Na reunião de terça-feira, em que foi tomada a decisão sobre o aeroporto, os diretores da Anac fizeram questão de registrar em ata que buscarão garantir que o processo de distribuição de slots "não seja discriminatório, tenha isonomia e transparência". Por isso, já houve o cancelamento de todos os pedidos encaminhados à agência pelas companhias aéreas, que tentavam assegurar espaço no Santos Dumont pela ordem de chegada das solicitações.
Até 22 de janeiro, a Anac havia recebido 47 pedidos: 14 da Webjet, 12 da OceanAir, 11 da TAM e 10 da Gol/Varig. Mais de 70% se referiam a voos com destino a Pampulha ou a Brasília. Os outros previam ligações para Vitória e Curitiba. Apenas um era para Porto Alegre - a maior distância entre as solicitações feitas.
Hoje, no pico (início da manhã e fim de tarde), o Santos Dumont tem 16 movimentos por hora. A capacidade operacional é para 23 pousos ou decolagens. O órgão regulador deixou claro que a distibuição dos espaços não seguirá o critério de ordem de chegada. A previsão dos técnicos é que dificilmente o aeroporto carioca terá ligações de grandes distâncias, como voos para Manaus.
A pista do Santos Dumont é curta - menos de 1.400 metros, inferior inclusive a Congonhas - e os manuais das aeronaves estabelecem o peso máximo para o pouso ou a decolagem. Quanto maior o trajeto, menor a quantidade de carga, combustível e até de passageiros que poderão ser transportados. Ou seja, a decisão das empresas respeitará uma lógica essencialmente econômico.
Fonte: Valor Econômico
2 comentários:
não sou muito disso mas dessa vez concordo com o Aécio... olha que sempre estou pegando estrada para pegar voo em Confins... a questão do HUB, concordo. E PLU não tem como, é ridiculo aquele aeroporto...para aviação geral e interior de MG ok... mas para embarcar 2 A320 e 1 738 por exemplo é RIDICULO.....
fora que o pouso é em uma área depois da represa da pampulha, tisoura de vento é pouco...
deviam estar falando de crescer com confins...isso sim, para os voos internacionais a sala já não comporta...
imagina na copa...
O governo de Minas deve resistir à pressão das cias aéreas e manter os vôos em Confins. O terminal da Pampulha é muito pequeno para receber um movimento maior que o atual, parecia um formigueiro nos horários de pico antigamente. Confins cresce como nenhum outro aeroporto no país, já tem atualmente 8 vôos internacionais diários e perspectiva de novos vôos. Os vôos para Rio, São Paulo e Brasília em Confins seguram os vôos internacionais e atraem novos vôos para outros destinos. A Pampulha deveria ter uma ampliação do terminal de passageiros, como foi feito no Santos Dumont e em Congonhas e, a partir daí, permitir duas idas e voltas diárias para Rio, Brasília e São Paulo para cada companhia, uma em cada horário de pico (manhã e noite). Só com esse incremento, Gol, Tam, Ocean Air, Webjet e Azul trariam 20 novos vôos para o terminal, algo já significativo e que não pararia o ritmo de crescimento de Confins.
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