Gargalos logísticos. Filas intermináveis. Burocracia irritante. Fuga de cargas.
Os termos relacionados acima dão a entender que esta será mais uma reportagem falando sobre os problemas da maioria dos portos brasileiros. Só que não é este o caso. As reclamações que abrem o texto são de figuras expressivas do transporte nacional de cargas aéreas. Eles temem arcar com prejuízos incalculáveis por conta da crise mundial e tentam manter, a muito custo, a esperança de que o mercado reaja rápido e os próximos meses sejam dignos de voos em céu de brigadeiro.
Durante a Intermodal 2009, um painel específico sobre o setor chamou a atenção do público que visitou o evento em São Paulo. Nele, figuras expressivas do setor de transporte de cargas aéreas debateram as perspectivas para a área. E depois de duas horas de opiniões contundentes, a constatação foi parecida com a de outros modais: está na hora do Governo Federal aplicar políticas que atraiam empresas e permitam a elas desenvolver nossa infraestrutura para picos de movimentação de cargas em, quem sabe, o ano de 2010, em uma previsão otimista.
“A complexidade do sistema de importação e exportação de cargas do Brasil mostra que há lentidão no processo e, para nós, a lentidão traz os gargalos. E isso se acentuou em tempos de crise. Sabemos que a infraestrutura de aeroportos como Guarulhos e Viracopos (ambos em São Paulo) não vai ser sanada de uma hora para outra. Mas, para já, desejamos ver o fim a burocratização do sistema. Ajudaria-nos muito e haveria melhora”, diz Jurg Rohrer, presidente da DHL Global Forwarding no Brasil, braço da empresa alemã especializado em transporte aéreo.
Quem também aproveitou a participação na Intermodal para chiar sobre gargalos logísticos foi o presidente da ABSA Cargo, Norberto Jochmann. Responsável por administrar a empresa líder do setor no Brasil, ele fez coro com o presidente da DHL ao reclamar da infraestrutura tupiniquim. Só que ampliou o leque de críticas ao Governo Federal, exigindo mais agilidade nas decisões e mais boa vontade para resolver impasses como a falta de espaços para o armazenamento de cargas em aeroportos. Suas queixas se parecem com as que se ouvem no dia-a-dia portuário.
“Nos últimos anos, se agilizou a mercadoria de importação, com entrega de cargas em 6 horas. Só que isso não se aplica na exportação. A carga doméstica tem como vilã a falta de incentivos. Veja um caso exemplar: a Transbrasil encerrou suas atividades, mas tinha um armazém de 10 mil m² em Guarulhos. A Receita Federal pegou o espaço para ela guardar lá produtos apreendidos. E nós sofrendo com falta de espaço em aeroportos. Outro absurdo é se quero mudar a carga de Guarulhos para Viracopos. Eu não consigo porque o sistema não suporta essa informação”.
O gerente de Infraestrutura da Infraero, Nelson Rodrigues Farias, preferiu adotar um tom mais otimista na Intermodal. Apesar de concordar com a maior parte das reclamações dos empresários, ele ressaltou que o modal aéreo foi o que sentiu com maior rapidez a recessão global iniciada no último trimestre de 2008. Porém, em episódios similares registrados anos atrás, o setor também foi o responsável pela primeira reação da cadeia logística brasileira. O fato de movimentar cargas de alto valor agregado também ajuda na expectativa por dias melhores.
“Números preliminares apontam uma recuperação da importação aqui no Brasil, o que não deixa de ser uma surpresa agradável. Eu tenho vários gráficos de cargas aéreas desde as crises dos anos 80 do século passado e posso garantir que nós seremos os primeiros a reagir ante o pessimismo de todo mundo. As indústrias de autopeças estão exportando muito e ajudando a manter nossos aviões no ar”.
Fonte: Porto Gente
Nenhum comentário:
Postar um comentário