A Air France pedirá aos passageiros para levar o lixo com eles ao sair do avião e deixar os assentos livres, dentro do seu plano de reduzir custos e estancar o avanço da EasyJet e Ryanair Holdings em seu mercado doméstico.
A Air France trabalha no plano depois de a tripulação da cabine de passageiros ter se recusado a assumir algumas tarefas de limpeza em uma unidade de baixo custo que lançará para tentar recuperar tráfego em aeroportos regionais, segundo um representante sindical envolvido nas negociações.
O executivo-chefe da empresa, Pierre-Henri Gourgeon, quer cortar o pessoal de limpeza que trabalha em terra, para manter os aviões mais tempo em voo, imitando as rivais de baixos preços e tornando viáveis os centros regionais, atualmente deficitários. Disputas sindicais, no entanto, obrigaram a empresa a desistir de uma das quatro bases que planejava, mesmo após a EasyJet lançar mais voos na França e a Vueling Airlines, da Espanha, começar a operar em Toulouse.
A Ryanair, maior aérea de baixo custo da Europa, não está preocupada com os planos de Gourgeon e considera a estratégia da Air France "sem esperança", segundo afirmou o executivo-chefe da empresa irlandesa, Michael O'Leary. "Na história da aviação, nenhuma empresa aérea tradicional teve sucesso em lançar uma verdadeira empresa aérea de baixas tarifas."
A Air France pedirá aos passageiros apenas para que levem os jornais oferecidos gratuitamente no início do voo, disse o porta-voz da empresa, Jean-Charles Trehan. Outras tarefas de limpeza serão realizadas pelo pessoal em terra que reabastece o avião, afirmou.
A Air France-KLM Group ficou para trás dos rivais no desenvolvimento de uma estratégia para enfrentar a ameaça do modelo de baixo custo.
A British Airways fundou uma subsidiária de baixo custo, a Go Fly, em 1998, no aeroporto londrino de Stansted, maior base da Ryanair. A Go Fly foi vendida para o 3i Group Plc em 2001 e, um ano depois, para a EasyJet, enquanto a BA encolheu sua rede deficitária de voos de curta distância para centrar-se em alimentar o tráfego no aeroporto de Heathrow, também em Londres.
A companhia alemã Lufthansa criou a GermanWings para defender sua posição em rotas regionais e a Iberia combinou sua operação de baixo custo com a Vueling em 2009. Depois, a empresa espanhola e a britânica British Airways se fundiram na International Consolidated Airlines Group.
"A Air France está um pouco atrasada em fazer esses ajustes e o mercado prossegue sem esperar por eles", disse Penny Butcher, do Morgan Stanley. "A maior parte de seus pares percebeu a ameaça do baixo custo e adaptou suas operações há anos. O atraso deve-se 99% a questões trabalhistas."
A participação da Air France no tráfego internacional e doméstico caiu de 39%, em 2002, quando a EasyJet, de Luton, Inglaterra, abriu sua primeira base na França, para 34% em 2009, segundo os dados mais recentes disponíveis.
No mesmo período, a EasyJet mais do que quadruplicou sua participação no mercado francês para 7,6%. Elevou sua oferta de assentos nos voos franceses em 35% no primeiro semestre e acrescentou um 22º avião à frota no país, para oferecer voos no verão europeu a partir do aeroporto parisiense de Charles de Gaulle e voos no inverno para Verona e Bolonha, na Itália. Celine Prenez, porta-voz da EasyJet, não quis comentar o plano da Air France.
As viagens aéreas de curta distância na França também enfrentam a pressão da operadora ferroviária SNCF e de seus trens de alta velocidade, à medida que a rede é ampliada e os tempos de viagem diminuem.
A estratégia de Gourgeon envolve transferir parte da frota de aviões A320, da Airbus, com duas fileiras de assentos, de Paris para Marselha, Nice e Tolouse, lançando dezenas de voos, incluindo rotas para os mercados do Norte da África, Leste Europeu e Escandinávia.
Pelo plano, o pessoal trabalhará mais horas e estará localizado nas bases regionais, o que reduzirá custos e o tempo de preparação entre voos para 25 a 30 minutos. Com isso, pretende elevar o tempo no ar para 12 horas por dia em relação às atuais 8 a 9 horas.
A Air France desistiu de levar o modelo a Bordeaux e pode atender a cidade com jatos menores da Embraer, além de adiar a inauguração da base em Marselha de junho para outubro, para possibilitar mais consultas com sindicatos.
Fonte: Valor Econômico/aviacao.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário