Respício Espírito Santo: "O problema não é a Copa, é o amanhã" (Arquivo pessoal)
"Alegar que o tráfego congestionado nas grandes cidades impede a ampliação dos voos é balela. Cidades como Londres, Nova York e Paris possuem, cada uma, mais de quatro aeroportos em suas regiões metropolitanas. Todos são muito congestionados, mas funcionam muito bem"
Privatista e perigoso. É assim que o especialista em transporte aéreo e professor de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Respício Espírito Santo é visto, com boas doses de exagero, nos corredores da Infraero, estatal que administra os superlotados e congestionados aeroportos do Brasil. Na Força Aérea Brasileira (FAB), responsável pelo monitoramento das rotas aéreas, suas opiniões não atraem admiração. As razões são as mesmas.
O professor é um defensor explícito da extinção completa do atual modelo de administração da aviação civil brasileira. Para ele, o Brasil perdeu a chance de modernizar os aeroportos com recursos próprios e, pior, segue protelando na hora de privatizar e abrir concessões. Um comportamento titubeante que prenuncia o desastre e o vexame nos saguões de embarque e desembarque quando chegarem as enxurradas de turistas para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016.
Ele aponta que a falta de competividade nos céus e nos terminais pode ser superada, em boa parte, com a abertura de aeroportos privados e com a descentralização das administrações dos aeroportos, que buscariam o lucro por conta própria para se manterem. Para medir o grau do atraso brasileiro, ele lembra que até na China comunista a livre concorrência é maior. Leia abaixo a entrevista concedida ao site de VEJA.
Por que o Brasil não resolve o problema dos aeroportos? Existem razões ideológicas, políticas e econômicas. Os aeroportos estão na mão da Infraero e o espaço aéreo com o comando da Aeronáutica. O governo jamais ampliou a oferta nos aeroportos. Em Guarulhos, inaugurado em 1985, não aumentaram pátio, terminal e pistas. Só que todos os brasileiros estão viajando mais. Mesmo que seja uma vez por ano, os milhões que compõem a classe C geram um volume enorme de gente. Com esta procura, as companhias aéreas vão continuar encomendando aeronaves e os pátios continuarão lotados.
Qual a dimensão do atraso? Somos os mais atrasados da América Latina. No Brasil, não estamos nem perto do modelo de concorrência dos outros países. Do jeito que é hoje, operações lucrativas, como a de Guarulhos, acabam por financiar as operações deficitárias de Londrina ou Macapá. Simplesmente não funciona.
De quem é a culpa? Nossa ineficiência não é culpa dos brigadeiros da Força Aérea, nem dos presidentes da Infraero. É um fenômeno estrutural, causado pelo modelo adotado pelo Brasil, que é muito antiquado. Quanto mais engessado o modo de atuar, pior.
Mas o modelo serviu durante um tempo. O que houve? O sistema era ineficiente, mas isso não aparecia por causa do controle com mão de ferro. Havia regulação de preços de passagens, de voos, de origens, destinos e de frequências. Chegou uma hora que isso não funcionou mais. No início dos anos 2000, desregulamentamos as transportadoras, só que deixamos o resto para depois.
E nos outros países? Quase todos os países agiam de modo parecido. Tudo mudou em 1978, quando o presidente americano Jimmy Carter assinou uma nova lei para o setor. A partir dali, quem faz o preço das passagens são as empresas. O resultado foi uma popularização das viagens de avião. Isso nós tivemos. Só que, nos Estados Unidos, o governo fez mais. Eles deram liberdade às aéreas para voar a qualquer lugar. O governo só olha a parte técnica de segurança e evita monopólios.
Onde nossa situação é pior? Em Guarulhos, Congonhas, Viracopos e Brasília. A exceção é o Galeão, que tem capacidade para receber mais passageiros. Mas não estou falando em conforto e segurança, que são questões diferentes.
A solução é a privatização? Nem sempre. Em alguns lugares os aeroportos são estatais e as companhias aéreas também. Não é isso que interessa. Precisamos da concorrência para sermos eficientes. Quem ganha é o passageiro.
Qual a alternativa além da privatização? Seria repassar aeroportos para governos estaduais e prefeituras que tenham este interesse e capacidade. Se depois, eles vão criar parcerias ou abrir concessões, é outro problema. O principal é o que não ocorre no Brasil. Aqui, os aeroportos não concorrem entre si. O aeroporto do Galeão, no Rio, sequer concorre com Guarulhos ou Brasília. Eles deveriam disputar entre si como ponto de partida internacional e ponto de distribuição para outras capitais menores.
O que deve ser feito a curto prazo para a Copa e a Olimpíada? Não perdemos tempo demais? O problema não é a Copa, é o amanhã. A solução agora são os "puxadinhos". Os novos terminais improvisados não podem ser uma solução de médio prazo, para a Copa e a Olimpíada. Só que até as soluções imediatas estão em passo de tartaruga.
A lei diz que é possível construir aeroportos privados. Onde há espaço e condições de competitividade? Na Grande São Paulo há condições tanto para um aeroporto privado nacional quanto internacional ou de aviação executiva. Só não há espaço para todos de uma vez. No futuro, acredito que o Distrito Federal necessitará de um novo aeroporto para a aviação executiva.
Há um mês, o Planalto disse haver condições para a construção do Novo Aeroporto de São Paulo, o Nasp. Depois voltou atrás. O que houve? Quem está no poder tem suas prioridades. O governo acena conceder Viracopos, Guarulhos e Brasília para a iniciativa privada. O processo deve demorar uns dois anos, já na beira da Copa.
E como convencer o usuário a partir de um aeroporto mais distante, como o Nasp? O passageiro tem que se acostumar. Nem todo o lugar do mundo possui um aeroporto central. Porém, alegar que o tráfego congestionado nas grandes cidades impede a ampliação dos voos é balela. Cidades como Londres, Nova York e Paris possuem, cada uma, mais de quatro aeroportos em suas regiões metropolitanas. Todos são muito congestionados, mas funcionam muito bem.
Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/precisamos-da-concorrencia-para-sermos-eficientes
Um comentário:
O professor está coberto de razão, a INFRAERO era governada com mão-de-ferro, quem trabalhou lá nos anos 70/80 lembra-se bem deste detalhe , não pagavam adicionais de periculosidade, insalubridade , não havia no pobre convênio médico, psicólogos, psiquiatras , exames de audiometria passavm longe desta turma, e funcionários., doentes, absenteísmo alto, surdez,doenças pulmonares devido a alta friagem dos terminais e salas dos funcionários, irradiação radiotativa ,não havia medições , dos níveis de contaminação , nos pátios, pistas , terminais, uso de raio X ,sem as devidas precauções, pouco ou quase nenhum protocolo de segurança , e falar ,comentar , questionar , fazer uma pauta de reivindicações era o terror , o inferno , o funcionário ficava marcado , era riscado da empresa, quem estava lá sabe bem do que vivemos nesta empresa que não respeitava seu corpo de colaboradores.Quem não selembra de um senhor Dalmas ???????
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