As companhias aéreas americanas poderão ter de reduzir seus voos, num momento em que a desaceleração da economia anula sua capacidade de aumentar as tarifas, ao mesmo tempo em que enfrentam alta dos custos com o querosene de aviação.
Esse aperto "pede contração", diz Hunter Keay, analista da Wolfe Trahan. O índice referencial das despesas com refino de combustível subiu para níveis recorde na semana passada, reforçando as pressões para que as companhias aéreas sigam o exemplo da Delta Air Lines e da Southwest Airlines na redução da atual capacidade ou do crescimento futuro.
O grau de confiança do consumidor despencou este mês para seu patamar mais baixo desde 1980, intensificando o temor de que os americanos reduzam seus gastos. Esse indicador se seguiu, no último dia 12, às oscilações recorde das ações americanas, quando o Índice Standard & Poor's 500 flutuou entre altas ou baixas de pelo menos 4,4% por quatro dias consecutivos.
"Acho que as companhias aéreas não deveriam encarar esse nervosismo como tendência de curto prazo", disse Keay em entrevista. "Se os executivos partirem para supor que os altos preços dos combustíveis vieram para ficar, eles deverão ter como premissa que o medo e a destruição do patrimônio do consumidor permanecerão indefinidamente também."
As empresas elevaram as tarifas na maior parte de seus voos domésticos por pelo menos oito vezes em 2011, e suas projeções apontaram para uma recuperação da economia que permitiria a adoção de novos aumentos. Essas expectativas estão se desfazendo depois dos três fracassos registrados nas últimas quatro tentativas do setor de aumentar seus preços.
"Está muito claro que a economia não está se recuperando" disse Gary Kelly, principal executivo da Southwest. "As viagens de negócios, por exemplo, não vão aumentar enquanto a economia não crescer realmente a uma taxa saudável."
Os executivos em viagem de negócios são os passageiros mais lucrativos do setor, pois normalmente compram as passagens mais caras, de última hora. O período de pico das viagens de lazer termina com o Feriado do Dia do Trabalho, comemorado nos EUA em 5 de setembro.
"Em algum momento, com as empresas vislumbrando uma economia fraca e um gasto do consumidor fraco, elas poderão se retrair" nos voos, disse Philip Baggaley, analista de papéis da S&P. "Será mais difícil para as aéreas continuarem a elevar os preços."
Isso desloca o foco das companhias aéreas para o corte de despesas. Elas poderão economizar dinheiro com medidas como a redução das frequências de voos, o cancelamento de algumas rotas e a substituição de aeronaves de maior porte por aviões menores. Todas essas medidas reduzem a capacidade disponível de assentos, pelo critério do número de assentos deslocados por milha.
A expansão da economia dos EUA poderá ser mais lenta no segundo semestre de 2011 do que o previsto pelos analistas, depois que a expansão do Produto Interno Bruto até junho ficou aquém das expectativas, o que sugere que "não conseguiremos escapar de um desaquecimento das viagens de negócios no terceiro trimestre", disse Michael Linenberg, do Deutsche Bank, por meio de relatório.
As expectativas dos investidores em relação às companhias aéreas caíram mesmo antes do colapso que ceifou US$ 6,8 trilhões em valor de mercado das bolsas mundiais de 26 de julho a 11 de agosto. O Índice Bloomberg de Companhias aéreas americanas ingressou num mercado vendedor no mês passado, ao despencar 20% em relação à sua alta recorde de 2011. Sua queda de 35% computada este ano, até o último domingo, ultrapassou o recuo de 6,3% registrado pelo Índice S&P 500.
O índice das empresas aéreas tinha aumentado 3,3% às 11h20 de ontem, horário de Nova York, em meio à alta da maioria dos papéis americanos. Embora o petróleo bruto tenha fechado a US$ 85,38 o barril a 12 de agosto na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex), com uma queda de 25% em relação à sua alta recorde de 2011, nem todas as companhias aéreas se aproveitaram do recuo. O querosene de aviação alcançava o preço médio de US$ 3,08 o galão (de 3,785 litros) este ano até o fim da semana passada, cotação 45% superior à do mesmo período do ano passado.
O ônus para as companhias aéreas é maior quando medido pelo fator conhecido como spread de craqueamento entre o petróleo bruto e o óleo para calefação. Muitas empresas aéreas usam os contratos futuros de óleo para calefação para proteger com operações de hedge suas compras de querosene de aviação, produto que não é negociado na Bolsa Mercantil de Nova York. O spread alcançou US$ 37,45 o barril a 10 de agosto, seu maior nível de 25 anos da série histórica da Bloomberg, e mais do que duplicou este ano.
O principal executivo da Delta, Richard Anderson, disse aos funcionários da empresa na semana passada que eles não deveriam "se deixar enganar" pelo recuo do preço do petróleo bruto.
"A economia enfrenta muitos desafios, e não temos motivos para pensar que os preços baixos dos combustíveis vão persistir", disse ele. A Delta, sediada em Atlanta, vai reduzir sua capacidade nos próximos meses deste ano em 5%, em relação aos pretendidos 4%. Os rompimentos antecipados de contrato coletivo e os programas de demissão voluntária deste ano contribuíram para que a segunda maior companhia aérea do mundo fechasse mais de 2 mil vagas, disse seu porta-voz Eric Torbenson no mês passado.
A Southwest, maior companhia aérea de tarifas econômicas, reduziu o crescimento de sua capacidade para 2011 para uma faixa de 4 a 5%, em relação aos 6% avaliados anteriormente. O número de assentos da Southwest, sediada em Dallas, permanecerá inalterado em 2012, e "possivelmente sofrerá uma ligeira queda", disse Kelly.
A United Continental Holdings, a maior companhia aérea, disse que sua disponibilidade de poltronas de 2011 permanecerá inalterada. A American Airlines, a terceira maior do país, cortou seus planos de crescimento para 2011 por três vezes, para uma meta de 1,9%. É provável a adoção de mais ajustes no início de 2012, segundo a American, uma divisão da AMR.
"Apostar em viagens eletivas não é uma boa aposta neste momento", disse Robert Mann, ex-executivo da American e atual diretor da consultoria R.W. Mann de Port Washington, Estado de Nova York. "Tudo vai depender do grau pelo qual as viagens de negócios vão continuar e de quais serão os lucros corporativos no terceiro e quarto trimestres."
As companhias aéreas estão em condições de reagir depois de reduzir seus voos em meio ao duplo ônus dos preços recordes dos combustíveis de 2008 e do colapso das viagens de negócios da recessão, disse John Heimlich, economista-chefe da Associação de Transporte Aéreo, a entidade patronal do setor em Washington.
Fonte: Valor Econômico / aviacao.com
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