O estudo é apoiado em números. Segundo a International Aviation Transport Association (Iata), ocorreram recentemente cerca de 51 incidentes relativos à perda de controle durante o voo com stall ou não, nos quais os comandantes se viram incapazes de uma recuperação. O índice leva esse tipo de ocorrência a ser a mais comum na atualidade. Nas palavras de um alto diretor da Federal Aviation Administration dos EUA, os pilotos estão esquecendo como se voa, fator agravado por regulamentos que impedem, durante o voo, que o comandante exercite e se mantenha atualizado com o uso da pilotagem manual.
A própria FAA, ainda de acordo com o artigo, possui um estudo no qual se comprovou que há um excesso de confiança nas respostas do equipamento. Este, como está ligado a inúmeros sistemas,quando falha leva a uma reação em cadeia na qual os pilotos não estão acostumados a interferir. O estudo examinou 46 acidentes e 734 relatórios voluntários obtidos de mais de 9 mil voos nos quais havia no cockpit um integrante da FAA. Em mais de 60% dos acidentes, e em 30% dos incidentes menores, os pilotos tiveram alguma dificuldade em voar manualmente. A expressão utilizada pelo relatório é "automatic addiction". Muito adequada.
Dois casos são citados nominalmente na reportagem como parte do estudo. No primeiro, a queda de um bimotor ATR em Buffalo, em 2009, o co-piloto inputou um dado incorreto no computador, o que levou o avião a um stall quando se aproximava da rampa de pouso. Diante do alarme de stall, o comandante, que não havia percebido,fez o mesmo que os tripulantes do AF447, ou seja, puxou o manche para cima, causando a freada aerodinâmica e a queda. No outro acidente citado, o do 737 da Turkish Airlines perto de Amsterdam, o computador recebeu tambem um dado incorreto do altímetro e reduziu a velocidade, causando o stall. Neste caso, o termo usado pela investigação do acidente foi "automation surprise" para definir a reação dos pilotos: de acordo com o relatório, o trio não estava monitorando a velocidade - tarefa delegada ao computador.
A reportagem ouve o capitão Chester Sully Sullenberger, autor do magnífico pouso com um A320 em pleno Rio Hudson. O comandante, talvez autor de uma das maiores façanhas da aviação moderna, acredita que tanto equipamentos, quanto pilotos, estão falhando juntos neste caso. Tem razão, e direito de falar: afinal, Sully só conseguiu fazer o pouso no Hudson - quando a torre do JFK freneticamente ordenava que se dirigisse a outro aeroporto mesmo ciente de que o jato tinha zero de potência nas duas turbinas - porque além de ter sido piloto de caças em porta-aviões durante a Guerra do Vietnã, também costumava exercitar sua habilidade de voo pilotando planadores nas horas de folga.
O bom desse debate é que, embora pareça lógica a percepção, ela esbarra nas exigências da realidade. Com o crescimento do tráfego aéreo, a FAA, por exemplo, emite regras que impedem o desacoplamento do piloto automático por decisão do piloto e a navegação confia cada vez mais em equipamentos de precisão como o GPS para poder reduzir o espaçamento vertical entre as aeronaves e também aumentar a precisão do pouso. Um dado interessante levantado pela FAA diz respeito ao tempo de voo solo em um jato regional: para etapas de duas horas em média, o piloto controla efetivamente o jato por meros 80 segundos. Há gestões para que isso seja compensado em treinamentos de simulador, mas as companhias resistem por conta da carência de profissionais experientes fora das rotas."
Fonte: do Blog JB Online :: JBlog Slot
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