17.4.13

Obese Passengers Should Pay Extra: Até onde vai a insensatez humana?


Insensibilidade humana de mãos dadas com o foco radical em custos

Humilhação e Desumanidade com que propósito?
(por Respicio A. Espirito Santo Jr.)
http://aviacaoemdestaque.com.br/ate-onde-vai-a-insensatez-humana/

Cobrar a mais de um passageiro que, em decorrência da sua condição de obesidade, é –na opinião deste autor– de uma falta de sensibilidade e humanidade que beira o inacreditável. Argumentar que esta cobrança é justificada para “compensar” o “incômodo” que estes passageiros podem causar a outros passageiros sentados ao lado ou, ainda pior, que os mais obesos seriam um risco à segurança no caso de uma evacuação, são pontos que beiram a total humilhação e desumanidade.

Com se não bastasse, recentemente um acadêmico norueguês passou a defender que o valor das passagens aéreas tenham relação direta com o peso dos passageiros [vide matéria do The Economist, logo a seguir deste texto]. Na visão deste acadêmico norueguês, quem é mais pesado deve pagar mais, pois quanto mais pesado alguém for, mais combustível é necessário para transportá-lo(a), comparando-o(a) aos outros passageiros “magrinhos”.

Com os argumentos anteriores e outros igualmente lastimáveis, alguns acadêmicos e consultores, sem contar algumas empresas aéreas, têm sugerido –ainda que com outras palavras– que os mais obesos configuram um fardo, um atentado ao conforto e –pior– à segurança dos demais a bordo. Se isso não é um claro exemplo de discriminação por condição física, isso é o quê? Como se pessoas que sofrem de algum descompasso em sua saúde que as leva à obesidade tivessem culpa disso, tivessem como escolher ter ou não ter este ou aquele problema de saúde. Da mesma forma, se o problema é de natureza emocional e isto faz com que a pessoa se encontre obesa, que os mentores da idéia de se cobrar taxas extras tenham certeza de que isso pode acontecer com qualquer um, eles inclusive. Contudo, nenhum deles deixará de ser um  ente querido e um cidadão digno devido à obesidade. Em verdade, todos –quer com alguma forma de mobilidade reduzida ou não– merecem um tratamento igualmente digno e não um tratamento humilhante, que atente conta a dignidade humana.

Pensemos um pouco além: E se estas tentativas de cobrar “a mais” –quer vinda de acadêmicos, consultores ou das próprias empresas aéreas– sejam uma espécie de “penalidade” sobre clientes que têm uma determinada condição física “de obesidade”? Se este for o caso, visto o que tem sido argumentado por algumas empresas aéreas há vários anos [vejam a íntegra da decisão da Suprema Corte do Canadá em um dos links ao final deste texto] e, mais recentemente pelo tal acadêmico norueguês, o que poderia vir pela frente?

Quem sabe uma visão extremamente simplista do tipo “mais peso = mais combustível = passagem mais cara” e outros visões desequilibradas conduzam alguns a pensar em cobrar um “extra” também de passageiros mais idosos, pois estes tendem a se locomover mais devagar e, assim, poderiam “reduzir” a “eficiência” nos procedimentos de embarque e desembarque, assim acarreando um custo operacional maior por parte das empresas aéreas e dos aeroportos? Ora, os mesmos talvez um dia pensem em mudar as “regras” atuais e passarem a cobrar “extras” também de pais viajando com seus bebês e mulheres grávidas. Ainda nesta linha extremamente infeliz de se pensar (na verdade, uma linha muito infeliz de sentir e de agir entre seres humanos!), quem sabe alguém não sugeria que outras pessoas com mobilidade reduzida passem a pagar um “extra” pelo necessário maior cuidado nas operações ou, até, para que os demais passageiros não tenham seu conforto ou sentimento de segurança afetados.

Como se não bastasse esta posição triste e extremista daqueles que pensam que é correto cobrar mais de pessoas obesas, cabe aqui ressaltar a completa e total falta de visão para oportunidades de fidelização de clientes. Ainda mais, revela-se uma total falta de respeito e consideração para com outras pessoas (clientes ou potenciais clientes!), não importando se são altos, baixos, obesos, magros, idosos, com mobilidade reduzida ou qualquer outro “rótulo” imposto pela parte da sociedade atual com suas ações mergulhadas em profunda estupidez, esta não raras vezes travestida sob as falsas formas do “politicamente correto” e das “ações afirmativas”. Pior, parte desta sociedade individualista não tem qualquer vergonha em bradar suas visões torpes, uma vez que pesquisas com passageiros encomendadas por empresas e veículos de comunicação apontam para a concordância de várias pessoas pelo mundo sobre cobranças “a mais” para os mais obesos. Os motivos da concordância? Obviamente as insensíveis “falta de conforto”, “preocupação com a segurança” e a estupidez pseudo-ambientalista de que “obesos devem pagar mais por que aumentam o consumo de combustível”…

Que o leitor tenha certeza: Existem diversas formas de acomodar com respeito e inteligência os passageiros mais obesos (assim como qualquer outro que assim precise) sem recorrer à necessidade de se ter um assento vago ao lado ou qualquer malabarismo a cargo dos comissários. A tecnologia, a criatividade e a inovação estão ao lado das empresas aéreas inteligentes. De fato, a tecnologia é uma das ferramentas-chave para solucionar esta onda egoísta e lastimável.

Dentro deste absurdo regado a muita humilhação e desumanidade travestidos de “conforto”, “segurança”, “menos consumo para ser mais amigável ao meio ambiente”, lembro-me das palavras de Voltaire: “É proibido matar e, portanto, todos os assassinos são punidos, a menos que o façam em larga escala e ao som de trombetas oficiais.”

As bases para se pensar e colocar em prática as soluções para o caso e, assim, acolher as necessidades de todos, respeitando a condição de cada um, são os de tratar as outras pessoas com dignidade, humanidade e fraternidade. E tratar os outros com dignidade, humanidade e fraternidade não custa um único centavo.

De forma a ampliar o leque de subsídios para reflexão, recomendo a leitura da decisão da Suprema Corte do Canadá (primeiro link logo a seguir) e das matérias abaixo listadas para visões e opiniões distintas sobre o assunto em tela:

http://www.otc-cta.gc.ca/decision-ruling/decision-ruling.php?type=d&no-num=6-AT-A-2008&lang=eng

http://www.drsharma.ca/severe-obesity-is-not-a-choice.html

http://travel.cnn.com/airline-fat-tax-should-heavy-passengers-pay-more-619046?hpt=hp_c2

http://www.cbc.ca/canada/manitoba/story/2008/01/10/one-fare.html

http://www.cbc.ca/canada/calgary/story/2008/11/20/airlines-disabled.html

http://www.cbc.ca/consumer/story/2009/01/09/cma-passengers.html

http://online.wsj.com/article/SB124450530210396091.html

Fonte: http://aviacaoemdestaque.com.br/ate-onde-vai-a-insensatez-humana/

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