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AEROPORTO DE CONGONHAS COMPLETA 80 ANOSAEROPORTO DE CONGONHAS COMPLETA 80 ANOS


Instalado no coração da zona sul de São Paulo, em posição de risco, terceiro terminal aéreo mais movimentado do Brasil já teve pista de terra e voos internacionais

O que veio primeiro? O Aeroporto de Congonhas ou os bairros ao seu redor? No dia 12 de abril de 1936, há exatos 80 anos, o aeroporto foi inaugurado, à beira da antiga Auto Estrada Santo Amaro, por onde passa a atual Avenida Washington Luiz.

Naquele tempo, porém, em vez do trânsito caótico de veículos pela avenida e centenas de pousos e decolagens atuais, o terminal ficava em uma região rural da cidade onde ainda havia pouquíssimas construções.

O aeroporto na pouca habitada zona sul de São Paulo era uma ideia dos anos 1920 e sugerido como uma alternativa ao Campo de Marte. O aeródromo na zona norte sofria com enchentes em épocas de chuva. Em Congonhas isso foi evitado com o enorme aterro da região, cuja primeira fase foi construída entre 1928 e 1932.

A primeira pista do terminal tinha apenas 300 metros de comprimento e projeto original previa a construção de quatro pistas. Atualmente a pista principal tem 1,940 metros de comprimento e a segunda, 1,435 m.

Congonhas pertencia a “Companhia Auto-Estradas”, antiga construtora com diversas ramificações que ajudou a erguer importantes pontos de São Paulo no passado. Dois meses após a abertura, a segunda pista ficou pronta e o aeroporto começou a receber os primeiro voos comerciais. Ainda em 1936, no dia 15 de setembro, o governo de São Paulo comprou o terreno, depois de chegar a um acordo com a Auto-Estradas.

Após ser adquirido pelo governo estadual, o local passou ser oficialmente denominado como “Aeroporto de São Paulo”. O nome “Congonhas”, o original criado pela construtora, é uma homenagem ao Visconde de Congonhas do Campo, primeiro governante da Província de São Paulo após a Independência do Brasil, em 1822. Não só isso, boa parte dos terrenos na região adquiridos pela Auto-Estrada pertenciam a um bisneto do visconde. E o aeroporto cresceu rapidamente.

Terceiro maior do mundo, em 1957

Em 1942, a “Secretaria de Estado dos Negócios e da Viação”, o antigo órgão de administração de transportes da cidade, iniciou uma série de estudos para melhorar Congonhas. O aeroporto ganhou torre de controle, terminal de passageiros, um prédio para autoridades e a pista principal foi ampliada – a pavimentação veio apenas nos anos 1950.

Com as reformas, Congonhas passou a receber voos de todo o Brasil e também do exterior. A ala internacional do aeroporto foi inaugurada em 1959, mesmo ano que também estrou a ponte aérea Rio-São Paulo, realizada pelas antigas companhais Vasp, Cruzeiro do Sul e Varig, ainda com aeronaves com motores a combustão.

No anos 1950, o aeroporto também era um dos maiores terminais de carga aérea internacional do mundo. Em 1957, Congonhas chegou a terceira posição global em movimentação de carga em aviões, atrás apenas dos aeroportos de Londres e Paris.

A partir da década de 1960, os controladores de voo de Congonhas, então um dos aeroportos mais movimentados do mundo, ganharam alguns “alívios”. O primeiro foi a ajuda do Aeroporto de Viracopos, inaugurado em 1960, que passou a receber os grandes aviões e modelos de carga, que antes pousavam apenas em Congonhas ou no Rio de Janeiro. Já em 1962, a torre de controle de CGH passou a usar sistemas de radar.

Mais reformas, nas décadas de 1970 e 1980, ampliaram os terminais e passageiros e concluiu a fachada clássica de embarque e desembarque do aeroporto, basicamente como é mantida até hoje. O prédio clássico de Congonhas, em estilo “art déco”, foi inaugurado em 1955. A construção é assinada pelo arquiteto Hernani do Val Penteado e seu assistente Raymond Alberto Jehlen.

Congonhas era um dos lugares mais badalados de São Paulo, no final da década de 1950. O salão principal possuía uma série de estabelecimentos comerciais, como empresas de turismo e estações de telégrafo e rádio internacional. No último andar do prédio andar ficava o concorrido salão de festas, local que também era palco de shows das maiores personalidades da música nesse tempo.

Ócio em Congonhas

Em 1985, com a inauguração do Aeroporto de Cumbica, todos os voos domésticos e internacionais que operavam em Congonhas foram transferidos para o novo terminal, em Guarulhos. O velho aeroporto ficou apenas com rotas regionais, com voos do interior de São Paulo, e a Ponte Aérea Rio-São Paulo, realizada pelos lendários turbo-hélice Electra da Varig.

Mas mesmo assim, era pouco para a capacidade instalada. O aeroporto que antes era lotado, por cinco anos seria um local de movimento moderado. Os voos domésticos (para outros estados) voltaram apenas em 1990, junto com a o retorno da grande movimentação de passageiros, até chegar ao formato atual.

Crescimento desenfreado, da cidade

Quem cresceu de forma errada foi a cidade, não o aeroporto. Com a construção e ampliação de Congonhas, os terrenos ao redor da pista eram alguns dos mais valiosos de São Paulo. Não só isso, boa parte deles pertenciam justamente a construtora Companhia Auto-Estrada… Os primeiros sinais de preocupação com o crescimento desornado começaram já na década 1960.

Em três de maio de 1963, o motor de um Convair da empresa Cruzeiro do Sul começou a pegar fogo logo após a decolagem e o avião caiu perto do aeroporto, sobre um casa, matando 34 pessoas. Esse tipo de acidente, com aviões caindo sobre construções, voltariam a se repetir outros duas vezes, com aeronaves da Tam, e são até hoje motivo de assombração para quem passa por Congonhas.

Cercado de bairros, avenidas, casas e prédios, Congonhas é bem diferente de aeroportos dos Estados Unidos ou de países na Europa, quase sempre construídos em locais remotos. O aeroporto no coração de São Paulo recebe atualmente cerca de 580 pousos e decolagens por dia, entre aviões comerciais e jatos executivos.

Segundo último balanço da Infraero, de 2014, Congonhas recebeu mais de 18,1 milhões de passageiros naquele ano, movimentados em 205.410 voos. O recorde de movimentação em CGH foi registrado em 2006, com 18,4 milhões de passageiros (em 230.995 voos).

Pousos computadorizados

As principais aeronaves comerciais que operam em Congonhas, como os jatos Airbus A320 da Tam e Boeing 737 da Gol, podem realizar os chamados “pousos automáticos”. Mas isso só pode ser realizado com ajuda do aeroporto, com o sistema ILS (sigla em inglês para “Sistema de Pouso por Instrumento”). Em poucos palavras, esse equipamento “conecta” o avião que está se aproximando ao aeroporto.

O sistema ILS de Congonhas envia por rádio dados de voo para os computadores dos aviões que se aproximam, facilitando operações em dias de chuva ou até com vento forte. Dependendo do nível de automação dos sistemas de controle da aeronave, a aproximação pode ser realizada de forma automática ou com pouca interferência dos tripulantes nos comandos.

Uma das principais portas de entrada e saída de São Paulo, o Aeroporto de Congonhas tem seus eternos horários de forte movimentação, de manhã e no final da tarde. Mas a noite a pista fecha para que todos ao seu redor possam dormir: o aeroporto recebe pousos e decolagens somente entre às 06h00 e 23h00. A regra foi instituída pela Departamento de Aviação Civil (DAC), em 1976, após reclamações de moradores dos bairros em volta da pista.

Apesar da posição polêmica, Congonhas é um aeroporto mais prático para passageiros que chegam a São Paulo – fica a cerca de 35 km de Cumbica. Mas como todo grande aeroporto brasileiro, CGH ainda não possui uma forma de transporte público eficiente, além de ônibus, táxis ou caronas, como há 80 anos atrás.







Fonte: Airway

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