Entrevista Milton Zuanazzi, ex-presidente da Anac
Um dos personagens mais expostos durante o apagão aéreo, o ex-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Milton Zuanazzi não quer mais saber da vida pública. Zuanazzi renunciou à presidência da Anac após a diretoria da agência ter sido trocada por pressão do atual ministro da Defesa, Nelson Jobim.
Gaúcho de Bom Jesus, 51 anos, Zuanazzi tem hoje uma empresa de consultoria em turismo com sede em Bento Gonçalves e filial em Porto Alegre, e acompanha de longe as turbulências no setor aéreo arrefecerem. Ao avaliar as ações da Anac na gestão de Solange Vieira, Zuanazzi afirma, tranqüilamente, que pouco mudou:
- Nossa política estava correta. A Anac agora mantém a política que tínhamos - defende.
Confira os principais trechos da entrevista que o ex-presidente da Anac concedeu a Zero Hora na tarde de quarta-feira.
Zero Hora - Para o senhor, o apagão aéreo terminou?
Milton Zuanazzi - O setor se normalizou a partir de 22 de junho de 2007, quando terminou a greve dos controladores. Mas se normalizou em relação ao que era antes: o setor tem problemas históricos, especialmente na infra-estrutura em São Paulo. Após 22 de junho, nós tivemos uma tragédia (acidente da TAM) que criou um ambiente como se as coisas estivessem descontroladas, mas na verdade não estavam. Aconteceu uma tragédia, foi um infortúnio.
ZH - Qual é a sua avaliação do episódio de sua saída da Anac?
Zuanazzi - Eu não fui trocado, eu resolvi sair. Não tinha sentido ficar lá brigando com o ministro (Nelson Jobim). Agora, todas as decisões que eu tomei como presidente da Anac, inclusive aquelas que anunciaram que seriam revogadas, todas elas voltaram atrás. Nós estamos vivendo a mesma política da minha gestão. No momento estou bastante satisfeito porque era uma política que estava correta, estava dentro de uma realidade. A Anac está com a política que nós tínhamos.
ZH - Não era necessária a sua saída, então?
Zuanazzi - O ambiente que se criou é externo à situação da Anac. Infelizmente, no Brasil a política pública é levada de forma muito parecida com futebol: se o time vai mal, troca o treinador. Às vezes, o problema não é o treinador, é falta de time, falta de estrutura, às vezes o problema é o cartola.
ZH - Como o senhor avalia o trabalho do ministro e da nova gestão da Anac?
Zuanazzi - No início erraram um pouco, mas agora está muito bem, eles voltaram atrás em tudo. Fizeram tudo aquilo que a gente dizia que devia ser feito.
ZH - Uma das medidas da Anac para o Verão foi a presença ostensiva de fiscais nos aeroportos. Essa medida não poderia ter sido tomada antes, na sua gestão?
Zuanazzi - A medida foi tomada pela minha gestão. Aqueles coletes fui eu quem comprei. Tudo aquilo foi tomado na minha gestão. Eles só colocaram em prática. Desde o Natal de 2006 (quando o sistema entrou em colapso após overbooking da TAM e o governo teve de transportar passageiros com aviões da FAB), todos os problemas nós monitoramos. Tanto é que não tivemos problemas no Ano Novo de 2007, no Carnaval e na Páscoa seguintes. Agora, passadas as obras (em São Paulo) e passada a greve, estamos diante daquilo que é a aviação brasileira antes de 29 de setembro de 2006, quando houve o acidente da Gol.
ZH - O senhor planeja voltar à vida pública?
Zuanazzi - Não é meu desejo. A gente dá uma parte de si à vida pública, no meu caso eu dei 28 anos. A vida pública é um lugar de muito desgaste hoje no Brasil. Você nunca é analisado pelo que você faz, e sim pela versão do que você faz.
Fonte: Zero Hora
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