Um tormento que rendeu manchetes diárias no ano passado, a chamada crise aérea, com direito a uma CPI que acabou em resultados peripatéticos, repentinamente sumiu do noticiário. Mas, afinal, como estamos? O tal apagão foi plenamente resolvido apenas com as medidas de emergência para destravar o sistema?
Algumas coisas foram feitas, e parcimoniosamente noticiadas, como a decisão da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero) de recomendar às companhias que aumentem a margem de tempo de permanência dos aviões no solo. O tempo autorizado pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) girava em torno de 20 minutos entre o pouso e uma nova decolagem.
Outra providência, em vigor em Congonhas: os passageiros devem pagar R$ 13,08 de taxa de embarque no terminal. Já para as aeronaves, são duas as tarifas: a de pouso, que ficou em até R$ 268,87, e a de permanência.
O objetivo da cobrança pela permanência das aeronaves é fazer com que as companhias cumpram os horários. Mas a taxa de permanência só será cobrada se o avião permanecer no aeroporto por mais de três horas. Dentro do período de isenção, a tabela das tarifas de pouso também tem valores diferentes.
Fora disso, de coisas possivelmente concretas, temos o aceno do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de que o governo estuda a possibilidade de conceder a administração de aeroportos à iniciativa privada. Mas ele negou, no entanto, que haja plano para privatizar a Infraero. O objetivo seria reestruturar a empresa para uma abertura de capital por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Vale a pena?
Especialista no assunto, o professor de Transporte Aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respício do Espírito Santo, perfila-se entre os defensores do sinal verde. Ressalta, no entanto, que isso por si só não vai garantir a regularidade e a pontualidade dos vôos. A pontualidade dos embarques, como diz, não depende somente da estrutura dos aeroportos, mas também das condições climáticas a até possíveis ineficiências das empresas e da própria administração dos aeroportos. Outro técnico, José Augusto Valente, especialista em Logística e Transporte, referindo-se ao apagão aéreo, vê mais fumaça do que fogo. Cita os números do extraordinário crescimento da movimentação de passageiros no ano passado, no Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, o mais requisitado do país. Chama a atenção de modo especial para o fato de que aumentou 19,27% a quantidade de passageiros em 2007 em relação a 2006 e que, somente no mês de dezembro, transitaram por Cumbica 1,8 milhão de pessoas, número superior em 31,59% ao do mesmo período de 2006. Mais: o número de aeronaves que chegaram e saíram do mesmo terminal teve um crescimento de 21,31%.
Foi no setor doméstico, porém, que ocorreu a grande multiplicação: mais de 1 milhão de passageiros, chegando a um índice de 49,16% na comparação com dezembro de 2006. Também a movimentação de passageiros no setor internacional apresentou picos homéricos. Isso, inevitavelmente, geraria conseqüências de toda ordem, da falta de poltronas vagas nas salas de espera à escassez de material de higiene nos sanitários. Mas a questão, hoje, é saber se estamos livres de fato de um retorno ao caos ou apenas momentaneamente afastados de tal risco. Em suma, que nenhuma investigação apurou suficientemente é se há segurança para voar no Brasil.
Fonte: Gazeta do Povo
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