Para quem está habituado com o caos dos terminais brasileiros, o aeroporto de Inchon, a 52 quilômetros de Seul, capital da Coréia do Sul, parece quase uma obra de ficção. Nesse local, de arquitetura futurista, fincado numa área de 6,2 milhões de metros quadrados, há cabines de massagem, quartos com chuveiro e até um hospital com nove andares. Não faltam também opções para o viajante que precisa ficar ali por algum tempo.
Para relaxar e gozar, existem campo de golfe, museu de cultura asiática, parque aquático e um centro de compras que abriga lojas de grifes como Chanel, Gucci e Versace. Porém -- mais importante que tudo isso --, Inchon faz com enorme eficiência o que qualquer aeroporto do mundo deveria fazer. Cerca de 90% de seus vôos saem no horário (o índice de Cumbica, em São Paulo, é de 40%). A manutenção dessa pontualidade é
um feito, sobretudo quando se considera o porte das operações de Inchon, que está entre os aeroportos mais movimentados do mundo, tanto pelo critério de número de passageiros quanto pelo de movimentação de carga.
Graças a essa conjunção de fatores, Inchon acaba de ser eleito, pela terceira vez consecutiva, o melhor aeroporto do mundo. O título foi conferido pelo Conselho Internacional de Aeroportos (ACI, na sigla original). Sediada em Genebra, na Suíça, a entidade realiza anualmente um dos mais respeitados rankings sobre a qualidade no setor. No último estudo, divulgado em fevereiro, a ACI submeteu a mais de 200 000 passageiros um questionário com 34 itens para avaliar os serviços de 99 terminais ao redor do mundo (nenhum dos brasileiros entrou na pesquisa). Além de questões como pontualidade e conforto das áreas de embarque e desembarque, os usuários opinaram sobre itens como infra-estrutura para compras e opções de lazer. No conjunto de impressões dos viajantes, Inchon está bem à frente de aeroportos como Heathrow, na Inglaterra, e La Guardia, na Espanha.
Boa parte do sucesso do aeroporto coreano pode ser creditada ao planejamento minucioso feito pelo governo do país. Durante os dois anos consumidos em estudos preliminares do projeto, foram analisadas 23 diferentes propostas, até que se adotou a mais ousada de todas. Ela previa a construção dos alicerces da obra sobre o mar, entre duas ilhas, no município de Inchon. Na execução do projeto, os operários precisaram drenar uma parte da água para baixar para 5 metros a profundidade do oceano Pacífico naquela região. O local foi escolhido por ter capacidade de abrigar até cinco pistas de pouso. Por enquanto, apenas duas delas saíram do papel. Mesmo inacabado, Inchon é o único aeroporto do mundo com espaço para manobrar, ao mesmo tempo, dois A380 da Airbus, o maior avião de passageiros em circulação.
OUTRA CARACTERISTICA IMPORTANTE é como seus administradores levam a sério a satisfação dos usuários. "É nossa maior prioridade", afirma Mina Choi, diretora de relações internacionais de Inchon.
O aeroporto conta com um ombudsman encarregado de responder a todas as reclamações em, no máximo, 24 horas. Com base nas críticas recebidas, Inchon adotou 162 mudanças em 2007, como mais "estacionamentos" para carrinhos de bagagem, novos horários de ônibus e até a desobstrução da paisagem vista de algumas janelas. A obses são com pontualidade fez com que o governo coreano investisse num sistema exclusivo de previsão de passageiros. Com informações obtidas de todas as 67 linhas aéreas que operam no aeroporto, é possível antecipar qual será o movimento de embarque e desembarque e deslocar o número necessário de funcionários para cada setor. Já o desgastante check-in pode ser evitado com a utilização de totens automáticos ou ser feito pelo próprio telefone celular do passageiro. Isso diminui filas e tempo de espera, torna as transferências em conexões mais rápidas e evita atraso nos vôos.
Previsto para dar lucro apenas no final de 2008, Inchon entrou no azul quatro anos antes. Até o momento, o governo coreano investiu 5 bilhões de dólares no projeto. Todos os investimentos realizados na "Cidade Alada", como Inchon é conhecido na Coréia do Sul, são justificados pela importância econômica do projeto. Ele ajudou a aliviar o tráfego do aeroporto de Seul e se tornou o segundo maior do mundo em volume de carga transportada. Quase um terço das exportações e importações do país passa por seus terminais. Além de ser fundamental hoje para a infra-estrutura do país, o local tem uma importância estratégica para o governo coreano. Segundo previsão dos especialistas, metade do tráfego aéreo mundial estará concentrada na Ásia até 2010. Se conseguir manter até lá o atual padrão de excelência em serviços, Inchon será um forte candidato a ficar com a maior parte desse mercado.
Proporção asiática
Compare os números de Inchon com os de Cumbica, o aeroporto mais movimentado da América do Sul (Guarulhos)
- Terminal de passageiros (em milhares de metros quadrados): Inchon 496 - Cumbica 184
- Volume de carga transportada por ano (em milhares de toneladas): Inchon 2700 - Cumbica 424
- Vôos por dia: Inchon 660 - Cumbica 520
- Passageiros por ano (em milhões): Inchon 31 - Cumbica 19
- Pontualidade (% de vôos com menos de meia hora de atraso): Inchon 90 - Cumbica 40





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