19.7.08

Promotoria tenta ouvir Zuanazzi

VÔO 3054 Ex-presidente da Anac se recusa a depor sobre acidente com avião da TAM, impedindo o fim das investigações. Parentes das vítimas querem indiciamento por dolo eventual

São Paulo — Em reunião com familiares das vítimas do acidente com um avião da TAM que matou 199 pessoas há um ano, o promotor do caso, Mário Luiz Sarrubbo, e o delegado que coordena as investigações, Antônio Carlos Barbosa, disseram ontem que o ex-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi, se recusa a prestar esclarecimentos sobre o acidente. Considerado fundamental para o esclarecimento do caso, Zuanazzi faltou a cinco convocações sem emitir qualquer justificativa. A informação deixou os parentes das vítimas revoltados.

Segundo Sarrubbo, os advogados do ex-presidente da Anac chegaram a sugerir que o delegado resgatasse o depoimento que ele deu à CPI do Apagão Aéreo no ano passado. Barbosa não aceitou a idéia e disse que tentará ouvir Zuanazzi em Porto Alegre, onde mora. “Sem o depoimento dele, não podemos concluir o inquérito”, frisou Sarrubbo.

A comissão com 50 parentes das vítimas pediu cópias do inquérito para que um grupo de advogados possa analisar a papelada. Sarrubbo e Barbosa disseram aos familiares que deverão indiciar até 10 pessoas por lesão corporal e homicídio culposo. No entanto, eles não descartaram a possibilidade de os acusados pelo acidente serem indiciados por dolo eventual (sem a intenção de matar, mas assumindo o risco de morte). “Tudo vai depender da análise final”, ressaltou Barbosa. “Ainda temos alguns depoimentos a tomar e resultados de perícia para anexar ao inquérito. Ou seja, muita coisa pode mudar”, afirmou Sarrubbo. O encontro dos familiares com o promotor e o delegado ocorreu em um hotel de luxo da Zona Sul da capital paulista. As despesas foram pagas pela TAM, como determinou a Justiça.

Júri popular

O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas da TAM (Afavitam), Dario Scott, disse que a entidade se mobiliza para que os culpados sejam indiciados por dolo eventual, pois assim seria mais fácil levá-los a júri popular. “Nossa intenção é que esse caso seja julgado de forma exemplar para que não ocorram mais tragédias como essa no país”, argumentou Scott. Segundo o delegado Barbosa, o laudo do Instituto de Criminalística, que fica pronto na semana que vem, será fundamental para classificar o crime como dolo eventual, além de outras provas e o depoimento de Zuanazzi.

Ontem, o delegado recebeu por malote o depoimento de Denise Abreu, ex-diretora da Anac. Para Sarrubbo, os depoimentos de Zuanazzi e Abreu são importantes para individualizar as responsabilidades pelo acidente. “Como eles eram representantes da Anac, eles tinham conhecimento de vários fatores que possam ter contribuído para a tragédia”, esclarece o promotor. Ele não descarta a possibilidade de incluir Zuanazzi e Abreu na lista de indiciados, por terem liberado a pista de Congonhas para aeronaves de grande porte com reverso desligado (condição em que estava o avião da TAM).

A desembargadora Cecília Marcondes, do Tribunal Regional Federal de São Paulo, afirmou que Denise Abreu teria apresentado documentos falsos para liberar a pista de Congonhas para pousos e decolagens de aeronaves de grande porte. Até então, uma norma proibia pouso de Airbus e Boeing em pista molhadas com o reverso inoperante. “Com a solicitação de Denise Abreu, esse tipo de pouso passou a ser autorizado e, nesse meio tempo, ocorreu a tragédia com o avião da TAM”, sustenta o promotor.

Antes do acidente, Zuanazzi e Denise tinham participado de uma reunião com representantes das companhias aéreas para tratar da segurança do aeroporto de Congonhas. Esse encontro teria resultado em medidas para melhorar as condições da pista. “Queremos que Zuanazzi explique medidas são essas e se elas foram implementadas”, ressalta Sarrubbo. Na segunda-feira, os familiares devem se encontrar com o procurador do Ministério Público Federal.

Fonte: Correio Braziliense

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