16.8.08

Lula refuta inspeção britânica em aeroporto

Presidente negou categoricamente proposta britânica de ter inspetor em Cumbica para fazer triagem de brasileiros que querem ir ao país Londres ameaça exigir vistos de brasileiros, medida que fará o Brasil adotar a medida também para os britânicos, disse o chanceler Amorim

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim negaram ontem categoricamente a possibilidade de o governo britânico vir a instalar um inspetor no aeroporto de Guarulhos (Grande SP) para fazer triagem dos brasileiros que podem ou não viajar ao país. "Não é possível permitir que haja policiais ingleses nos aeroportos brasileiros fiscalizando o Brasil. Isso não é uma boa política", disse Lula em Assunção, onde esteve para a posse do presidente do Paraguai, Fernando Lugo.

Ele também classificou como "retrocesso" a ameaça britânica de voltar a exigir vistos dos brasileiros. Os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores deverão cuidar dos temas.

Apesar de Lula ter dito que o Itamaraty não tinha recebido "nada oficial", a informação foi corrigida por Amorim assim que o avião presidencial decolou. O ministro disse que tratou da questão com o embaixador do Reino Unido em Brasília, Peter Collecott.

A chancelaria britânica formalizou a pressão que vinha exercendo nos bastidores e enviou ao Ministério da Justiça e ao Itamaraty uma carta exigindo maior rigor com brasileiros que viajam à ilha. Se Brasília não aceitar, Londres promete cobrar vistos de turistas.

"Escrevemos para informar-lhe que, a menos que trabalhemos juntos durante os próximos seis meses para implementar medidas efetivas em relação a nossas preocupações, não teremos outra opção a não ser introduzir um regime de vistos para o Brasil", diz a carta datada de 3 de julho, assinada pelo chanceler David Miliband e pela ministra do Interior, Jacqui Smith.

A pressão britânica sobre o Itamaraty foi revelada em fevereiro pela Folha. Ontem, o jornal "O Estado de S. Paulo" divulgou o documento em que o governo britânico formaliza as exigências. Na carta, ele propõe a instalação de um oficial de ligação no aeroporto para treinar agentes de viagem e funcionários de empresas aéreas na identificação de fraudes em vistos e documentos, modelo já usado em mais de 30 países.
Mais duro ainda do que o presidente, Amorim disse que a proposta dos britânicos de colocar um inspetor em Guarulhos "é inaceitável" e "vai dificultar a mobilidade entre os países". "Não aceitaremos. Poder de polícia é exclusivo e soberano de cada país."

Ressalvando que entende as dificuldades dos países ricos com a imigração, Amorim reclamou de tentarem "meter o Brasil no mesmo balaio" com países de perfil muito diferente e rechaçou medidas de "caráter unilateral" e que "desrespeitem os direitos humanos".

Disse ainda que o Brasil conseguiu boas negociações com Espanha e com Portugal, que também têm feito represálias a visitantes e migrantes de países mais pobres. Por isso, defendeu entendimentos com os britânicos, para persuadi-los a retirar a proposta.

Quanto à volta de exigência de vistos, disse: "Se tiver de haver visto, aplicaremos, porque somos realistas". Avisou, porém, que haverá reciprocidade, ou seja, o Brasil passará a exigir o mesmo de cidadãos britânicos que venham ao país.

O Reino Unido exige hoje vistos apenas para morar, trabalhar, se casar ou estudar. A mudança ocorre após revisão do sistema de vistos "para evitar abusos" na imigração.

O Brasil está sob observação, junto com Bolívia, Botsuana, Lesoto, Malásia, Ilhas Maurício, Namíbia, África do Sul, Suazilândia, Trinidad Tobago e Venezuela, segundo a embaixada britânica.

Fonte: Folha de SP

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