Presidente negou categoricamente proposta britânica de ter inspetor em Cumbica para fazer triagem de brasileiros que querem ir ao país Londres ameaça exigir vistos de brasileiros, medida que fará o Brasil adotar a medida também para os britânicos, disse o chanceler Amorim
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim negaram ontem categoricamente a possibilidade de o governo britânico vir a instalar um inspetor no aeroporto de Guarulhos (Grande SP) para fazer triagem dos brasileiros que podem ou não viajar ao país. "Não é possível permitir que haja policiais ingleses nos aeroportos brasileiros fiscalizando o Brasil. Isso não é uma boa política", disse Lula em Assunção, onde esteve para a posse do presidente do Paraguai, Fernando Lugo.
Ele também classificou como "retrocesso" a ameaça britânica de voltar a exigir vistos dos brasileiros. Os ministérios da Justiça e das Relações Exteriores deverão cuidar dos temas.
Apesar de Lula ter dito que o Itamaraty não tinha recebido "nada oficial", a informação foi corrigida por Amorim assim que o avião presidencial decolou. O ministro disse que tratou da questão com o embaixador do Reino Unido em Brasília, Peter Collecott.
A chancelaria britânica formalizou a pressão que vinha exercendo nos bastidores e enviou ao Ministério da Justiça e ao Itamaraty uma carta exigindo maior rigor com brasileiros que viajam à ilha. Se Brasília não aceitar, Londres promete cobrar vistos de turistas.
"Escrevemos para informar-lhe que, a menos que trabalhemos juntos durante os próximos seis meses para implementar medidas efetivas em relação a nossas preocupações, não teremos outra opção a não ser introduzir um regime de vistos para o Brasil", diz a carta datada de 3 de julho, assinada pelo chanceler David Miliband e pela ministra do Interior, Jacqui Smith.
A pressão britânica sobre o Itamaraty foi revelada em fevereiro pela Folha. Ontem, o jornal "O Estado de S. Paulo" divulgou o documento em que o governo britânico formaliza as exigências. Na carta, ele propõe a instalação de um oficial de ligação no aeroporto para treinar agentes de viagem e funcionários de empresas aéreas na identificação de fraudes em vistos e documentos, modelo já usado em mais de 30 países.
Mais duro ainda do que o presidente, Amorim disse que a proposta dos britânicos de colocar um inspetor em Guarulhos "é inaceitável" e "vai dificultar a mobilidade entre os países". "Não aceitaremos. Poder de polícia é exclusivo e soberano de cada país."
Ressalvando que entende as dificuldades dos países ricos com a imigração, Amorim reclamou de tentarem "meter o Brasil no mesmo balaio" com países de perfil muito diferente e rechaçou medidas de "caráter unilateral" e que "desrespeitem os direitos humanos".
Disse ainda que o Brasil conseguiu boas negociações com Espanha e com Portugal, que também têm feito represálias a visitantes e migrantes de países mais pobres. Por isso, defendeu entendimentos com os britânicos, para persuadi-los a retirar a proposta.
Quanto à volta de exigência de vistos, disse: "Se tiver de haver visto, aplicaremos, porque somos realistas". Avisou, porém, que haverá reciprocidade, ou seja, o Brasil passará a exigir o mesmo de cidadãos britânicos que venham ao país.
O Reino Unido exige hoje vistos apenas para morar, trabalhar, se casar ou estudar. A mudança ocorre após revisão do sistema de vistos "para evitar abusos" na imigração.
O Brasil está sob observação, junto com Bolívia, Botsuana, Lesoto, Malásia, Ilhas Maurício, Namíbia, África do Sul, Suazilândia, Trinidad Tobago e Venezuela, segundo a embaixada britânica.
Fonte: Folha de SP
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