Fim de verão no hemisfério norte, início de outono. No sentido figurado também. A crise financeira mundial, precedida pelo aumento recorde nos preços de petróleo finalmente cobra um preço - elevadíssimo - ao setor. Os números divulgados em pesquisa encomendada pelo JP Morgan mostram que as principais empresas aéreas da aviação comercial norte-americana retiraram de operação nos últimos meses nada menos que 512 aeronaves comerciais, demitindo dezenas de milhares de profissionais. Para ter em mente o que isso representa, é quase duas vezes o número de aeronaves em operação em todo o Brasil. Ou ainda, a eliminação por completo da capacidade de uma empresa do porte da Northwest Airlines.
Ao final de 2007, as companhias aéreas ianques operavam 6.808 aeronaves comerciais, sendo 3.972 jatos de mais de 100 lugares (mainliners) e 2.836 aeronaves regionais (jatos e turboélices). Somente neste ano, foram para os desertos da Califórnia e Nevada um total de 281 mainliners (7% da frota) e nada menos que 302 aeronaves regionais, ou 11,4% da frota anteriormente operada. Dentre os jatos de maior capacidade, os modelos que mais sofreram baixas foram os Boeing 737-300 e 500, mas tipos como o MD-80, Boeing 757, DC-9 e até mesmo os mais modernos A320 foram igualmente aposentados.
A lista inclui, dentre outros:
American: 40 mainliners (30 MD80, 10 A300-600); 37 Regional Jets e 26 turboélices
Continental: 67 mainliners (737-300 e 737-500); 64 Regional Jets
Delta: 20 mainliners (MD-80 / 757-200) e 100 Regional Jets
JetBlue: 4 Embraer 190
Northwest: 47 mainliners (14 757-200 / A320 e 33 DC-9)
United: 100 mainliners (94 737-300 e 6 747-400)
US Airways: 12 mainliners
Dentre os tipos regionais, o estrago maior deu-se dentre os jatos de 50 lugares, como os Bombardier CRJ e Embraer 145. Incapazes de operar economicamente com os preços do petróleo nas alturas, suas proprietárias simplesmente não conseguiam ganhar dinheiro com este tipo de equipamento. Modelos turboélices como os ATR ou Dash 8, muito mais econômicos, ganharam destaque na composição das frotas regionais. Tanto é assim que foram aposentados apenas 2,5% desses turboprops.
Essa redução nos serviços regionais representa problemas sérios para pequenas comunidades. Muitas deixaram de contar com vôos regulares de empresas regionais, perdendo suas únicas ligações por via aérea aos grande hubs nacionais. Esse fenômeno é sinal claro de que a economia ianque entra, de uma vez por todas, em um ciclo recessivo, depois de um longo período de bonança. Desde a recessão de 1990-1991 e do soluço de 2001-2002, este último provocado em boa medida pelos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, os números de tráfego aéreo encontravam-se em expansão.
E, a irracional exuberância do sistema financeiro mundial parece ter criado uma certa leniência no setor. O que todos sabem é que há muitos anos o mercado norte-americano vinha entrando em ligeiro e gradual declínio, sofrendo de uma síndrome de difícil cura: excesso de capacidade. Essa oferta maior do que a demanda havia levado o setor a enfrentar problemas crônicos de congestão em terra e no ar, bem como uma severa diminuição na qualidade de receita, conseqüência direta da perda de qualidade de receita por passageiro/km transportado, o chamado "yield".
Com yields cada vez mais anêmicos, o setor naquele país vem amargando uma lenta e crescente redução na qualidade dos serviços prestados. As companhias aéreas norte-americanas, que por décadas estiveram sob vários aspectos à frente do setor, hoje estão no fim da fila. As frotas são antigas, anti-econômicas e em grande maioria, as empresas não dispõem de caixa para renová-las. Pior: o nível de regularidade e pontualidade cai a cada ano. O número de reclamações sobe na razão inversa ao salário dos profissionais do setor.
Enfim: a aviação norte-americana simplesmente deixou de ser competitiva com suas parceiras européias, por exemplo. Isso para não citar as asiáticas e, de uns anos para cá, as novas e pujantes empresas aéreas do oriente médio. O outono chega, enfim, para todas essas empresas que têm, diante de sí, um longo e tenebroso inverno.
Fonte: Jetsite
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