...texto original do JB Online :: JBlog Slot
"...O tema é meio desagradável, reconheço. Mas não há ninguém que já tenha andado de avião que não comente sobre a pior parte da viagem, que é a de usar os banheiros a bordo. Lembro de ter publicado no blog, certa vez, o relato dramático dos passageiros de um vôo da Qantas, transoceânico, no qual o sistema de esgotamento sanitário parou de funcionar. O resultado foi o transbordamento para a cabine e um final de viagem com todos os passageiros nauseados pelo fedor indescritível.
Mas esse é o pior dos mundos. O normal é mesmo aquele desagradável incômodo quando se usa o local pela manhã, no final do vôo. Como todo o peso é absolutamente controlado, é evidente que a água que sai da torneira, quente ou fria, tem um limite. Em média, um Airbus A330, que faz vôos transatlânticos, leva dois ou três tanques de água, dependendo da configuração, com capacidade total de 1.000 litros. Como são oito banheiros nesse modelo, a média para cada um é de apenas 62,5 litros. (Obtive as informações junto a uma companhia de porte internacional).
É muito pouco se observamos o movimento intenso após as refeições e o tempo que muita gente gasta ali dentro. Depois do desembarque, a turma da manutenção tem de entrar em ação para deixar tudo pronto outra vez. Mas para a minha surpresa, não há uma exigência grande: 2 homens/hora de trabalho mês para ações corretivas e 8 homens/hora de trabalho por mês para manutenção preventiva.
Quando conheci o protótipo do A380, na fábrica de Toulouse, um dos engenheiros me falou de uma solução que estavam estudando para pode aumentar a capacidade do jato nesse ponto crítico. O superjumbo, vale lembrar, pode carregar até 800 passageiros, na configuração máxima. É possível então imaginar que importância esse departamento ganhou dentro do programa. Daí, a decisão de reunir todos os aparelhos sanitários em um só local, na chamada wingbox, a caixa quadrada onde são conectadas as asas e o corpo da aeronave. Com acesso através de uma escada, os projetistas europeus tencionavam reunir até 24 banheiros em um só local. A quantidade a mais de água que poderia levar seria obtida a partir da redução de peso com os canos de água quente e fria. A idéia acabou não indo para a frente, mas nunca soube o motivo.
Se a questão da quantidade ainda parece um desafio meio insolúvel, a higiene pode ter sido bastante aperfeiçoada. No novo Boeing 787 Dreamliner, um dos features mais aguardados está justamente nos banheiros. Os engenheiros americanos desenvolveram equipamentos acionados por infravermelho que abrem a água da torneira (controlando a vazão e o tempo), esgotam a água usada na cuba, basculam a tampa da lixeira, dão a descarga no vaso e, melhor de tudo, fecham e abrem a tampa do vaso sanitário. Isso significa que poderemos entrar de manhã, depois de aguardar na fila, e ver um cenário menos dantesco.
Também para saciar a curiosidade (inútil, eu diria), aquele barulhão que ouvimos quando acionamos a descarga não é o do vácuo sugando o que está no vaso para fora da aeronave. Na verdade o sistema opera com vácuo entre tanques específicos: em terra, um gerador fornece pressão inferior à normal, na tubulação abaixo do vaso sanitário. Em vôo, acima de 16 mil pés, o gerador não é mais necessário, com o vácuo sendo gerado pela diferença de pressão entre a parte interna e externa do jato. Todo os dejetos são transportados para um tanque específico na aeronave, e esgotados após o pouso com um caminhão especial. Apenas a água utilizada nas pias é liberada na atmosfera durante o vôo.
Esse é o modelo normal de uso. Há exceções curiosas. No A380, a Primeira Classe pode receber o maior de todos os sonhos. Um chuveiro. É bem verdade que um relógio controla o tempo do banho (5 minutos apenas) e cada gota dágua ali custa uma fortuna. Em outras companhias orientais, no entanto, o luxo é mais compartilhado: há banheiros equipados com bidê. Eca..."
Fonte: do JB Online :: JBlog Slot
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