Passados dois anos da mais grave crise aérea e congelados os planos de privatização da INFRAERO, o presidente da empresa, Murilo Marques Barboza, no cargo só há dois meses, tem inúmeros projetos de expansão da estatal no país e no exterior. A convite do Itamaraty e obedecendo às determinações do presidente Lula, a INFRAERO - que em 2007 era o retrato da ineficiência do Estado - começará a assumir funções fora do país, com foco sobretudo na América do Sul e África.
Já há um convite do governo do Paraguai para a empresa operar o aeroporto de Assunção e uma equipe acompanhará missão do Itamaraty a São Vicente e Granadinas (no Caribe), onde o Brasil vai abrir uma embaixada e a INFRAERO deve se encarregar do desenvolvimento aeroportuário da ilha.
Barboza negocia com o governo do Peru, também apoiado pelo Itamaraty, a criação de linhas aéreas transfronteiriças e pretende esticar esse mesmo modelo para a Venezuela. Trata-se de abrir linhas, operadas por aviões pequenos, de Lima diretamente para cidades próximas à fronteira, como Cruzeiro do Sul ou Rio Branco. De lá, os passageiros entram na malha aérea da INFRAERO. "Isso incentiva a aviação regional e o nosso aeroporto, dinamiza a fronteira e tira o tráfego do Rio e São Paulo, ambos saturados", disse.
Fora da rota de prioridade de Lula, mas não menos interessante, a estatal analisa um convite do governo tcheco para participar da privatização do aeroporto de Praga.
Ao mesmo tempo e com a certeza de que terá dinheiro, Barboza tem vários planos para expansão doméstica. Primeiro, vai criar uma superintendência com autonomia para cuidar da logística de carga, hoje de competência da diretoria comercial. Esse é um primeiro movimento para, quem sabe, uma futura subsidiária.
O movimento de cargas em Viracopos (Campinas) foi baqueado pela crise mundial e pela taxa de câmbio. De janeiro a agosto a receita com transporte de cargas caiu cerca de R$ 56 milhões (menos 17%) sobre o mesmo período de 2008, mas o movimento, disse ele, já começa a voltar, refletindo a recuperação da economia.
"Vamos abrir um voo direto para a China, três vezes por semana, de Campinas a uma cidade perto de Macau, para levar carga, basicamente equipamentos, componentes eletrônicos, e mais adiante, remédios e alimentos", disse.
O presidente da estatal se inspira na Aeroportos Espanhóis e Navegação Aérea (Aena), estatal espanhola, que tem uma subsidiária só para tratar da logística de carga, uma outra dedicada a operações no exterior, e uma terceira, de pequeno porte, de consultoria de engenharia de transporte. A Aena é uma empresa totalmente estatal que, no entanto, estava programada para ser privatizada este ano. A crise global adiou o plano para 2011.
No Brasil, as propostas de abertura de capital da INFRAERO e de privatização dos aeroportos esfriaram. O BNDES e a agência reguladora (Anac) ainda avaliam alternativas, mas o presidente da estatal diz: "Não podemos ficar esperando cair do céu o modelo que vai servir. Não posso deixar que isso imobilize a empresa. Se Granadinas for bom e o presidente (Lula) mandar ir em frente, eu vou."
O processo de internacionalização da empresa não fere a legislação vigente, segundo Barboza. "Ela não proíbe, mas pretendo propor uma pequena alteração na legislação, descrevendo tudo o que posso fazer, para ter amparo maior." Ele acha que seria importante deixar claro que a INFRAERO pode entrar na operação direta de aeroportos no exterior, o que significa assumir o controle e a gestão do empreendimento. De qualquer forma, a lei não proíbe a empresa de prestar assessoria e fazer projetos, junto com uma empresa construtora brasileira (escolhida por licitação), no exterior.
Entre as previstas no PAC e as necessárias para a Copa do Mundo, ele prevê que terá, em 2010, umas 20 frentes de obras no país. "No fim de 2010 e 2011 teremos um grande canteiro de obras em praticamente todos os principais aeroportos da rede INFRAERO."
Dinheiro não será problema. "A ministra Dilma (Rousseff, da Casa Civil) tem sido uma fada madrinha para a INFRAERO. Todo o dinheiro que a empresa pediu para os projetos encomendados veio." Este ano, os investimentos podem chegar a R$ 1,3 bilhão.
Para a Copa, os maiores obstáculos não estão no sistema aeroportuário, mas na mobilidade urbana e no acesso às cidades. "A Copa para nós não é um grande desafio, porque podemos colocar os grandes voos fora dos horários de pico. O que nos preocupa é a acessibilidade dos aeroportos e a mobilidade urbana." A empresa está fazendo novos terminais, um de passageiros, e o outro, de cargas, no aeroporto do Galeão. Com isso, a capacidade de passageiros dobrará de 10 milhões para 20 milhões/ano. " Bom, mas os passageiros vão sair por onde? Você já viu que a Linha Vermelha e a Linha Amarela estão o dia todo engarrafadas? E a segurança?" Barboza já está conversando com o governo do Rio sobre algumas possibilidades, como ter uma linha de barco para a Ilha do Governador ou estender um rabicho do metrô até o aeroporto. "Tem que ter transporte de massa para dar escoamento", disse.
Esse é um problema de todas as grandes cidades do país. Não há ônibus que sirva aos passageiros do aeroporto de Brasília, cita ele. E, em muitos casos, para fazer intervenções urbanas e abrir acessos será preciso desapropriar áreas imensas, o que não é fácil. A empresa está, portanto, em ritmo acelerado de crescimento. Até janeiro ingressam 760 novos funcionários e haverá mais concursos. Depois da crise de 2007, houve uma certa blindagem da INFRAERO. Mudou-se o estatuto para permitir que apenas um diretor seja escolhido por indicação política. Os demais são da própria casa.
Isso, é claro, não é mudança suficiente para fugir da ineficiência e evitar o extravio do dinheiro público, duas enfermidades crônicas do setor público. Ontem mesmo os jornais publicaram relatório da Controladoria Geral da União (CGU), que identificou rombo de R$ 10 milhões num contrato da INFRAERO com o consórcio CDN, responsável pelo abastecimento.
Fonte: Valor Econômico
Um comentário:
Acho bem interessante, a infrazero não consegue administrar com competência e transparência os aeroportos Brasileiros...vai querer administrar de um país pior que o nosso ainda !!! Sensacional
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