Recursos do IPO do Multiplus podem ser usados para adquirir as ações de Sebastián Piñera, presidente eleito do Chile.
O dinheiro que a TAM vai levantar com a abertura de capital do Multiplus, sua gestora de programas de fidelidade, já pode estar carimbado. Segundo apurou o Portal EXAME, desde a semana passada, a companhia brasileira intensificou as conversas para comprar a fatia que o empresário Sebastián Piñera detém na LAN Chile.
Presidente eleito do Chile, Piñera assumiu o compromisso, durante a campanha, de vender sua participação na empresa aérea para se dedicar apenas à condução do país. O negócio é avaliado entre 1,6 bilhão e 2 bilhões de dólares. Procurada pela reportagem, a TAM, informou que não comenta o assunto, e que mantém um contrato de codeshare (compartilhamento de voo) com a Lan Chile, bem como um acordo de manutenção de aeronaves.
As conversas são lideradas pelo banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual e membro do conselho de administração da TAM. Esteves articulou um grupo de bancos de investimento para apoiar a empresa da família Amaro na transação. Parte dos recursos viria também do IPO do Multiplus, que pode acrescentar até 1,2 bilhão de reais ao caixa da TAM, caso a oferta saia pelo teto da faixa de preço - 24 reais por ação - e os lotes adicionais de ações sejam lançados.
Piñera detém 26% da LAN Chile, por meio de duas holdings - a Axxion, que possui 19% da aérea, e a Santa Cecília, com 7%. O objeto das negociações é a fatia da Axxion. Durante a campanha, Piñera transferiu a titularidade da Santa Cecília à sua esposa, Cecília Morel - o que gerou críticas dos opositores e a afirmação do empresário de que não precisaria se desfazer dessas ações porque, afinal de contas, era sua esposa, e não ele, quem as detinha.
Concorrente
O concorrente mais forte da TAM na disputa pelas ações é a família Cueto, que já detém 25% da LAN Chile. Quem acompanha as negociações afirma que, por ora, a vantagem na disputa é dos Cueto. “Eles estão lutando muito para assumir a fatia de Piñera”, diz uma fonte a par das movimentações. Listada na Bolsa de Santiago e com papéis negociados também na Bolsa de Nova York, a empresa chilena conta ainda com diversos fundos americanos e mais de 1.100 acionistas individuais - mas consolidar uma posição na aérea a partir da compra de lotes pulverizados no mercado não está nos planos da TAM.
Entrar no capital da empresa chilena traria muitas vantagens estratégicas para a TAM. Fundada em 1929 e privatizada em 1989, a LAN Chile é uma das maiores companhias aéreas da América Latina, com operações para os Estados Unidos, Canadá, América Latina, Europa e Oceania. Conta com uma frota de 96 aeronaves e subsidiárias na América do Sul e no setor de transporte de cargas. “A empresa seria um grande complemento à malha que a TAM já possui”, afirma uma fonte.
Conta a favor do negócio as boas relações da família Amaro com os Cueto e os Piñera desde a época em que a TAM, era comandada por seu fundador, o comandante Rolim Amaro.
Em maio de 2007, por exemplo, as duas empresas formalizaram um acordo de compartilhamento de voos. Se a TAM entrar no capital da LAN, a tendência é de que a parceria entre as empresas seja aprofundada.
Caso o Congresso aprove o projeto de lei que aumenta de 20% para 49% o limite de capital estrangeiro em uma empresa aérea brasileira, as duas companhias poderiam até se tornar uma só futuramente.
Em novembro do ano passado, o projeto foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado em caráter terminativo, mas, para entrar em vigor, ainda precisará do aval da Câmara e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias já se manifestou publicamente a favor do aumento do limite do capital estrangeiro com a manutenção do controle nacional das companhias aéreas.
As ações do Multiplus começarão a ser negociadas na Bovespa na próxima sexta-feira (5/2), de acordo com o prospecto preliminar da oferta. Os recursos do IPO estarão no caixa da nova controlada da TAM em 9 de fevereiro, quando os compradores de papéis efetuarão o pagamento. Pelo prospecto, 94% do dinheiro captado será transferido para a TAM, por meio de uma operação de venda de passagens-prêmio e pontos. Somente 6% do montante permanecerá no caixa da Multiplus.
Os prazos divulgados são compatíveis com a pressa com que Piñera quer resolver sua situação na LAN Chile. Os envolvidos afirmam que a conclusão do negócio não passará de março. Isto porque a participação do empresário na companhia vem sendo duramente criticada pela oposição chilena, e já causa desconforto na população em geral. Apesar de ser reconhecida como uma das melhores empresas aéreas da América Latina, os chilenos ressentem-se do virtual monopólio que a LAN Chile exerce no seu país de origem. “A empresa é praticamente um monopólio privado, e ter o presidente do país como dono não soa bem”, resume uma fonte.
Se os Amaro perderem a briga, o plano B pode ser aplicar os recursos na área de gestão de aeroportos - um plano acalentado há bastante tempo por Maria Cláudia Amaro, filha de Rolim e presidente do conselho de administração da TAM. O problema, aqui, é a política interna brasileira. A privatização dos aeroportos é um tema que vem conquistando a simpatia da opinião pública, mas que ainda enfrenta fortes resistências entre os políticos. A TAM teria que aguardar o desfecho da eleição presidencial de outubro e torcer para que um candidato favorável ao tema vença o pleito. “É um plano B muito incerto. Por isso eles estão investindo muito na compra da LAN Chile”, diz um observador.
Fonte: PORTAL EXAME / BGA
Nenhum comentário:
Postar um comentário