O aumento do limite de capital estrangeiro em empresa aérea brasileira dos atuais 20% para 49% só deverá ser autorizado pelo governo em 2011, por causa das eleições este ano, mas companhias aéreas de fora do país já demonstram interesse em investir por aqui. A informação é do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea). Nomes, porém, não foram informados.
Recentemente, o fundador do grupo de turismo CVC, Guilherme Paulus, afirmou que vai voltar a negociar com a irlandesa Ryanair a venda de ações da sua controlada Webjet assim que a alteração na legislação aeronáutica for sancionada. Nos Estados Unidos, a presidente financeira da United Airlines, Kathryn Mikells, revelou, em fevereiro, que a empresa tem interesse em fusões, especialmente na América do Sul e no Brasil.
"Tem algumas empresas aéreas estrangeiras fazendo sondagens não só com companhias grandes, mas com as de médio e pequeno porte também", afirma o diretor técnico do Snea, Ronaldo Jenkins. Na avaliação do executivo, não há perspectiva de que o limite de capital estrangeiro no setor aéreo alcance 100%, embora seja esse um dos objetivos do Ministério da Defesa. "Para o país, é melhor manter a hegemonia de capital nacional numa empresa aérea", acrescenta.
Jenkins, porém, diz que as restrições de operações em aeroportos, que estão sendo implementadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), assim como os problemas de infraestrutura aeroportuária poderão reduzir o interesse de investidores estrangeiros.
Já na opinião de dois executivos do setor aéreo e do consultor aeronáutico Paulo Bittencourt Sampaio, a aprovação do aumento de capital estrangeiro no setor não deverá deflagrar uma "corrida" de empresas aéreas de fora do Brasil com apetite para comprar até 49% das ações com direito a voto de companhias aéreas brasileiras.
Para eles, a mudança na legislação do setor servirá mais como uma oportunidade adicional para as maiores do setor, TAM e Gol, captarem recursos no exterior. Entre as médias e pequenas companhias, acreditam que a mudança pode incentivar um movimento de abertura de capital para poder tirar proveito da nova realidade.
"No passado, as empresas aéreas brasileiras eram totalmente contrárias. Tinham administração muito antiquada. Elas não queriam a presença de capital estrangeiro no setor", afirma o consultor Sampaio.
A avaliação do diretor de Relações Institucionais da Azul, Adalberto Febeliano, é a de que o aumento do limite de capital estrangeiro pode ser inócua. "É mais importante do ponto de vista de uma sinalização do governo para o mercado. O limite, considerando-se o capital total, vai passar de 6,7% para 16,7%. Ou seja, não é relevante", afirma o executivo. Ele também não acredita que, no futuro, não haja limitação para a participação de capital estrangeiro nas empresas aéreas brasileiras.
"A nossa demanda de capital está equilibrada. Mas considero a mudança muito positiva, independentemente de a Trip ter necessidade, ou não, de obter capital externo", afirma o presidente da Trip, José Mário Caprioli. A maior empresa aérea regional brasileira concluiu, em março, a transferência de 20% de seu capital votante para a americana Skywest, que também opera linhas regionais no mercado americano.
A Webjet, que é integralmente controlada pela GJP Participações, empresa do grupo CVC, avalia que a mudança na legislação do setor aéreo vai gerar mais confiança entre os investidores estrangeiros. "Não há como prever a velocidade com que o mercado reagirá", afirma o presidente do conselho de administração da empresa, Gustavo Paulus.
Na opinião do executivo, filho de Guilherme Paulus, a aviação tem potencial para atrair interesse. "Porém, negociações desse tipo envolvem inúmeras variáveis e precisam ser avaliadas minuciosamente tanto pelo lado dos possíveis investidores como na realidade das empresas que estão em operação", diz ele. (AK)
Fonte: Valor Econômico
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