Órgão que investiga tragédia com avião da Air France redefiniu área de buscas e já sabe que comandante tentava voltar ao Brasil
O Escritório de Investigação e Análise para a Aviação Civil (BEA) da França anunciou ontem, em Bourget, nas imediações de Paris, que espera localizar até amanhã os destroços do Airbus A-330, desaparecido no Oceano Atlântico. Robôs-submarinos vasculham a área na qual o avião teria afundado, depois de ter iniciado o retorno ao Brasil - por motivos que só a análise da caixa-preta pode esclarecer.
O provável ponto do fundo do mar em que os restos do aparelho estariam foi anunciado pela Marinha da França na quinta-feira. Graças a um software desenvolvido pela empresa de alta tecnologia Thales, sinais captados pelos sonares que realizaram a primeira fase das buscas, entre 10 de junho e 10 de julho, puderam ser decifrados.
Essa nova região se situa ao sudoeste da área de buscas delimitada por especialistas europeus e americanos em dezembro de 2009 e é caracterizada por uma profundidade que varia entre 2,6 mil metros e 4,6 mil metros. "É um relevo muito difícil, acidentado, com algumas chapadas que são relativamente mais fáceis de serem vasculhadas", esclareceu o diretor do BEA, o engenheiro Jean-Paul Troadec. Até ontem, cerca de 65% da área já havia sido varrida pelo navio Seabed Worker, que realiza as buscas.
Trata-se de uma área fora da rota habitual dos voos transatlânticos. Segundo Alain Brouillard, diretor de investigações do BEA, o dado indica que, entre a emissão da última mensagem automática de localização pelo avião e o seu desaparecimento, houve em torno de 5 minutos de voo não programados. "Por que razão? Não sabemos." Conforme Brouillard, apenas a leitura dos dados das caixas-pretas poderá revelar o motivo pelo qual a tripulação decidiu-se pelo retorno ao Brasil. Uma hipótese foi cogitada pelo diretor de investigações. "Frente a condições meteorológicas adversas na região, outros aviões também fazem alterações de rota."
Reavaliação. Para Troadec, os "bips" captados que levaram à nova área de busca são "muito similares" aos emitidos por caixas-pretas. "O sinal foi localizado, mas com os meios de análise da época não tínhamos como identificar o sinal específico", afirmou. "Estamos convencidos de que os sinais sonoros correspondem bem aos emitidos por balizas acústicas de um avião."
A exploração do quadrilátero de 20 km no Atlântico tornou-se prioridade absoluta das equipes de busca e uma nova etapa de verificação não está descartada, caso a atual não seja bem-sucedida. "Nossa prioridade é explorar profundamente essa região. Não localizamos os destroços. Temos boas razões para acreditar que estão lá, mas ainda não temos a confirmação", alertou Troadec.
Além do uso de sonares, as equipes se valem de robôs-submarinos que fazem mergulhos em grandes profundidades para verificar as informações colhidas. Câmeras também são usadas, mas a visibilidade no fundo do mar é de apenas 10 metros, o que dificulta os trabalhos. Em favor das buscas conta o fato de na região não existir correntes marítimas, o que favorece a hipótese de que os destroços estejam reunidos no fundo do mar.
"Não temos todos os resultados das buscas porque os submarinos ficam por 20 horas no fundo do mar. É somente quando eles sobem à superfície que recuperamos os dados colhidos. Agora os submarinos estão vasculhando toda a parte leste do retângulo e, quando voltarem, teremos todos os dados", confirmou Troadec. "É possível que amanhã tenhamos resultados."
Investigação. Brouillard ressaltou que os técnicos estão "otimistas". "Os sinais sonoros são o fato mais importante desde a localização dos corpos e pedaços da aeronave", afirmou. Ele adverte, porém, que em alguns acidentes as caixas-pretas acabam ejetadas pelo impacto.
A eventual localização dos restos do Airbus, entretanto, não significa que haja um prazo para o resgate. As caixas-pretas terão primeiro de ser encontradas em meio às peças do avião. Além disso, nada assegura que seus dados serão legíveis depois de um ano sob o desgaste provocado pela água salgada. "Quero adverti-los para a elaboração de cenários e hipóteses prematuras. Nada garante que poderemos concluir o que aconteceu no acidente. O BEA continuará muito prudente", afirmou o diretor.
Fonte: Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário