O acidente com o avião da Afriqiyah Airlines em Trípoli, na Líbia, quarta-feira, me levou a essa coluna. Fiquei surpreso, para começar, com o fato primeiro de que o A330-200 tinha só oito meses de uso, o que em aviação significa que o revestimento ainda cheira a plástico de loja. Um desastre com um jato como esse tem grande chance de ter sido causado por falha humana.
O Metar (boletim meteorológico) local na hora do acidente indicava uma visibilidade que havia caído de 5 mil metros para 2 mil metros. Se a informação é correta, então o acidente ocorreu um minuto antes de o sol surgir no horizonte. Segundo fóruns aos quais sou associado, o aeroporto de Trípoli está um pouco acima do nível do mar, o que exigiria uma transição entre área de sombra e de luz solar na hora mais crítica. Os dados do tempo davam conta, ainda, de visibilidade prejudicada por poeira (é época de tempestades de areia) e neblina.
A aproximação nestas condições, de acordo com especialistas, é complicada pelo fato de a poeira reduzir a visibilidade na parte em que o jato estaria de frente para o sol nascente ainda que, no solo, essa mesma visibilidade fosse maior. Naquele momento, tais condições teriam persistido até praticamente o toque na pista. A indicada pela torre estava nos mínimos. Traduzindo, o piloto tentou um toque praticamente às cegas.
São conjecturas, é evidente, mas têm lá sua lógica. A queda teria ocorrido na arremetida, após a tentativa de pouso além do ponto de 1.200 metros da cabeceira RWY09, atendida por VOR (rádio beacon) e por NDB, auxílio ao pouso, este considerado obsoleto.
A queda do A330 teria ocorrido quando a aeronave tentava circular para a cabeceira RWY27, onde o efeito do sol nascente é menor na visibilidade reduzida. Nos fóruns, a 09, ainda, consta como badly designed, ou seja, ruim, tanto quanto o próprio controle de tráfego local, que, de acordo com essas fontes, costuma pedir ao cockpit que confirme ter a pista no visual, para então poder receber o clearance para pouso – ainda que a visibilidade em terra esteja perto de zero. Em uma situação de aproximação tão complicada, a necessidade dessa consulta é apontada como um fator que interfere na decisão de arremeter. Um segundo a mais pode ser o desastre e o tempo, como neste caso – os destroços estavam perto da cabeceira, em torno de 1,5 km do ponto de toque, vi no Google Maps – parece ter sido crucial.
Outro aspecto importante para as investigações diz respeito ao estado dos destroços em si. A quantidade de fragmentos e seu tamanho indicam uma desintegração resultante de impacto em alta velocidade contra um terreno plano, porém não condizente com um ângulo baixo, o que seria o usual em uma operação de pouso. As fotos não mostram só restos queimados, mas até o leme de cauda com marca de impacto no alto, sugerindo uma capotagem ou arrastamento lateral acentuado.
A avaliação desses pilotos – alguns com histórias ruins de pousos nesse aeroporto – aponta como causa provável do acidente um movimento de correção muito brusco realizado no cockpit pouco antes do toque na pista, já depois do flare ou arredondamento, o que teria levado um dos wingtips da asa a tocar o solo, desequilibrando a aeronave. A combinação dessa suspeita com as difíceis condições técnicas para a operação num horário crítico, e a uma possível inexperiência no cockpit – só recentemente pilotos líbios assumiram esse papel na empresa – teria levado a mais esse trágico desfecho.
Fonte: JB Slot
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