23.3.11

O Aeroporto do Petróleo

Localizado perto das Bacia de Campos e de Santos, único aeroporto internacional privado do País vira base para a indústria petrolífera

O sol se esconde entre nuvens num fim de tarde da Região dos Lagos enquanto funcionários do Aeroporto Internacional de Cabo Frio miram o céu. No pátio, eles estão a postos há mais de uma hora com empilhadeiras e possantes elevadores de grandes volumes para receber um grande avião de carga. Mas o Boeing 767 cargueiro que aterrissa não protagoniza nenhuma ocasião especial.

Com vantagens geográficas e logísticas, o aeroporto de Cabo Frio, no litoral fluminense, está se tornando uma importante base de importação para a indústria do petróleo na Bacia de Campos e tem recebido um fluxo cada vez maior de aviões cargueiros. Pelo menos 160 são esperados este ano. Companhias de carga, como Absa, Volga-Dnepr e Kalitta Air operam pelo menos dois voos semanais.

Só entre 2008 e 2009, o volume de cargas do terminal cresceu 65%, quase triplicando o faturamento, que alcançou R$ 40 milhões. Segundo a administração do aeroporto, os números de 2010 ainda em consolidação apontam crescimento bem mais modesto, mas com a manutenção do patamar de mais de 15 mil toneladas movimentadas por ano.

Embora ainda pouco conhecido, o terminal de Cabo Frio é o único aeroporto internacional administrado pela iniciativa privada no País e oferece uma infraestrutura para operações de carga que não se espera para um aeroporto de interior, a começar pela pista impecável. Com quase três quilômetros de extensão, incluindo uma área de escape, ela permite o pouso em segurança de gigantes como os Boeings 777 e 767, o MD-11, o DC-10 e o gigante ucraniano Antonov. No final de janeiro, um jumbo (Boeing 747) pousou na cidade com três helicópteros Sikorsky, modelo S-76. Os aparelhos integram agora a frota de seis helicópteros que operam o transporte de trabalhadores de empresas como Petrobrás, OGX e Devon para as plataformas de produção de petróleo em alto mar a partir do aeroporto de Cabo Frio.

A movimentação triplicou em um ano. São quase cem pessoas em trânsito por dia, com direito a um terminal exclusivo para a companhia de táxi aéreo que presta serviço para a Petrobrás. A previsão é ter 30 helicópteros operando até o fim do ano.

Aperitivo. Os números do Aeroporto de Cabo Frio parecem apenas um aperitivo diante do que deve acontecer na região nos próximos anos com o início da exploração comercial das reservas de petróleo da camada pré-sal. As empresas do setor, que deverão injetar mais de R$ 370 bilhões na economia brasileira só nos próximos quatro anos, importam cada vez mais equipamentos. "Com a posição geográfica da cidade, o aeroporto está perto tanto da Bacia de Campos quanto da de Santos, além da sinergia natural com o Porto do Forno, em Cabo Frio. A empresa pode importar um equipamento de avião e embarcar num navio a sete quilômetros", conta Francisco Pinto, sócio e presidente do conselho da Costa do Sol, concessionária que administra o aeroporto.

"O raciocínio que fazemos hoje é de que é grande a probabilidade que se repita em Cabo Frio o desenvolvimento que se viu em Macaé, que concentrou a primeira fase da operação do petróleo justamente por ter porto e aeroporto", diz.

O terminal de Cabo Frio ainda aproveita a vocação turística da região, que tem cidades vizinhas como Búzios e Rio das Ostras, para explorar o transporte de passageiros. O aeroporto já tem sete voos semanais regulares de TAM, Trip e Pantanal com ligações para Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Juiz de Fora.

Companhias sul-americanas, como Pluna e Lan, operam ligações na alta temporada, o que também aumenta o movimento de voos fretados. Só neste verão, 40 mil pessoas já chegaram à região dos Lagos por meio do aeroporto.

Na verdade, a vocação original do aeroporto era o transporte de passageiros. Inaugurado em 1998 numa parceria entre os governos federal e estadual, ele foi municipalizado no ano seguinte. A prefeitura então o privatizou.

Vencedora da licitação para uma concessão de 22 anos, a Costa do Sol viu o número ainda pequeno de passageiros minguar logo em seguida, em 2001, com a retração da aviação civil após o 11 de setembro de 2001.

A concessionária então descobriu o nicho da carga e viu o faturamento se multiplicar depois de dois anos de prejuízos. Aos investimentos públicos de R$ 50 milhões em pistas, ampliações, pátios e desapropriações quando da construção do primeiro módulo do terminal de passageiros em meio ao terreno de antigas salinas, a concessionária acrescentou inversões de R$ 30 milhões para equipar o terminal de cargas e passou a colher mais de 90% do seu faturamento da movimentação de cargas.

Hoje, Pinto e seus quatro sócios buscam um novo parceiro investidor para consolidar o aeroporto, viabilizar um condomínio logístico industrial no entorno e aproveitar todas as potencialidades da operação. "Temos consciência de que hoje nosso negócio é maior do que a nossa empresa. A bateria já está acabando", diz Pinto, rejeitando a possibilidade de venda da empresa.

Para ele, a gestão privada facilitou na agilidade para tomar a decisão de investir para mudar o foco da operação. "Se não tivéssemos ousado, não teríamos conseguido recuperar os prejuízos e a concessão teria fracassado. É preciso ter a estrutura antes para poder atender. Se for esperar a demanda para então fazer a estrutura, ela vai para outro lugar."

Primeiro impacto. O aumento da movimentação no Aeroporto Internacional de Cabo Frio está trazendo para a cidade o primeiro impacto econômico direto da indústria do petróleo. Até agora, a cidade de 186 mil habitantes beneficiava-se apenas dos tributos da exploração na costa. Segundo dados da prefeitura de Cabo Frio, a cidade recebe entre R$ 10 milhões a R$ 12 milhões de royalties e participações especiais da exploração de petróleo na costa, cerca de 3,5% do que arrecada o Estado do Rio com o petróleo.

Ricardo Valentim, coordenador da área de Indústria, Comércio e Trabalho da Prefeitura de Cabo Frio, diz que o aumento do pouso de cargueiros em Cabo Frio refletiu-se na queda do volume de carga recebido pelo Porto do Forno. No entanto, diz que o aeroporto impactou mais a economia da cidade com o aumento do fluxo de pessoas ligadas à indústria do petróleo ou de turistas. 

Fonte: Estadão

Um comentário:

Anônimo disse...

O correto e acertado é não deixar a INFRAERO colocar a mão neste aeroporto, ainda agora , análises dos principais terminais do Brasil, mostra a lerdeza desta empresa paquidérmica, ineficiente, ineficaz, que não consegue dar continuidade às obras que são urgentes, CGR,CGH,VKP , no Estado de SP, são exemplos vivos da inoperãncia da INFRAERO, a presidenta Dilma está calada, alguém saberia informar, quem é o Presidente da INFRAERO???.Pobre cidadão brasileiro que necessita utilizar os aeroportos no Brasil:- Saberia alguém nos informar se já retiraram as "sucatas" da VASP, VARIG, TRANSBRASIL, FLY que "decoram" nossos principais aeroportos????.