25.10.11

Aviões da Sukhoi tentam conquistar o Ocidente




No meio da aviação militar, o caça russo Sukhoi tem uma fama invejável. Máquina de guerra poderosa e versátil, é chamado de a “Ferrari dos aviões”. Mesmo essa boa reputação, contudo, não é garantia de sucesso para o novo empreendimento da empresa russa que fabrica o caça.

A Sukhoi agora quer brilhar no setor de aviação civil, mais especificamente na faixa dos aviões médios, para até 120 passageiros — aquela liderada pela brasileira Embraer e pela canadense Bombardier. Essa é a missão do Superjet 100, o primeiro avião comercial concebido e fabricado na Rússia após o fim da União Soviética.

Anunciado orgulhosamente como um projeto moderno, o novo produto da Sukhoi deve ter diante de si uma longa trajetória até conquistar o mercado, especialmente o do mundo ocidental, assim como já ocorreu com a Bombardier e a Embraer.

“A indústria da aviação é um dos setores mais sensíveis à confiança do consumidor em relação a uma marca”, diz Rohit Deshpandé, professor de marketing da Universidade Harvard. “Se tudo correr bem, a imagem de um produto ou serviço nesse setor se firma positivamente apenas após anos de trabalho e de muito investimento em divulgação de imagem.”

Apresentado na Paris Air Show de 2009, o Superjet 100 teve as primeiras entregas no início de 2011. O primeiro voo com passageiros ocorreu em abril, pela companhia aérea armênia Armavia. De acordo com a Sukhoi, o modelo já recebeu 170 encomendas, a maioria da própria Rússia ou de ex-repúblicas soviéticas.

Uma companhia de leasing americana, a Willis, foi a primeira no Ocidente a formalizar um contrato, mas ainda não especificou em que países os aviões vão operar. A estatal russa Aeroflot é uma das principais clientes, com 40 encomendas e opção de mais 15. A Sukhoi estima que irá produzir 800 Superjets 100 nos próximos 20 anos, o equivalente a 11% da demanda projetada para o mundo.

“Fomos uma das empresas líderes durante a Guerra Fria, quando a indústria aeroespacial era dominada por aviões militares. Agora que a aviação comercial representa 80% do mercado, precisamos nos voltar para esse segmento”, disse a EXAME Mikhail Pogosyan, presidente da United Aircraft Corporation, estatal que reúne as principais fabricantes de aviões da Rússia, e presidente do conselho de administração da Sukhoi.

Além de ser novata em um setor em que tradição é fundamental, a Sukhoi tem outra desvantagem: sua nacionalidade. Os aviões fabricados nas ex-repúblicas soviéticas são donos de algumas das piores estatísticas da história da aviação civil.

As vendas dos primeiros três Bandeirante representaram um marco. Ao final, foram vendidos 499 desses modelos globalmente — apesar do estigma de avião perigoso que acompanhou o Bandeirante durante anos.

A Sukhoi tem, sobre a Embraer dos anos 70, as vantagens da experiência e da herança tecnológica. É reconhecida por ter produzido alguns dos melhores aviões de guerra do mundo.

“O caça supersônico Su-35 é o avião mais manobrável já feito. É capaz de parar no ar e mudar de direção em 180 graus”, diz Cláudio Lucchesi, autor de livros sobre história da aviação. Ainda assim, o trabalho de conquista de espaço na aviação comercial do Ocidente deve ser uma viagem de longa distância para a Sukhoi.

“Vamos observar atentamente como esses aviões se saem na Rússia e esperar até que se provem viá­veis também nos Estados Unidos e na Europa. Daqui a uns 15 anos, talvez possamos pensar em fazer negócio”, diz Gianfranco Beting, diretor da companhia aérea Azul, que, hoje, opera apenas aeronaves da Embraer.

Fonte: Exame


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