Falta de mão-de-obras qualificada na aviação civil é uma ameaça
O alto custo dos cursos de formação de pilotos e mecânicos de aviões somado à escassez de vagas de trabalho no setor depois da quebra da Vasp, da Transbrasil e da Varig contribuíram para diminuir o interesse por essas carreiras. Agora, com a retomada do crescimento da aviação civil, a ameaça de que falte mão-de-obra qualificada já preocupa especialistas e autoridades do setor aéreo.No início do mês, a Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag) alertou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, para o problema. Segundo o presidente da entidade, Rui Thomaz de Aquino, o país já convive com um déficit anual de 40% na formação de pilotos comerciais e mecânicos. De acordo com Aquino, o Brasil precisa formar mil pilotos por ano, mas só consegue habilitar 600.
– Vamos ter problemas a curto prazo para encontrar pilotos que atendam os aviões de grande porte – disse Aquino, apontando a falta de uma política governamental como principal razão para o baixo número de novas habilitações.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não confirma os números divulgados pela Abag, mas admite que os especialistas concordam que a mão-de-obra para a aviação civil está escasseando. Segundo a agência, enquanto a demanda por transporte aéreo cresceu a taxas anuais que variaram entre 12% e 16% nos últimos quatro anos, a estimativa é de que a quantidade média de licenças concedidas para pilotos privados tenha crescido apenas 2% no mesmo período. Para pilotos comerciais, a média foi de 3% e para pilotos de linha aérea, 4%.
Enquanto os pilotos comerciais precisam ter no mínimo 150 horas de vôo para poder trabalhar profissionalmente, seja para uma empresa de táxi-aéreo, seja pilotando um avião particular, o piloto de linha aérea deve ter no mínimo 1.500 horas de vôo para poder trabalhar nas companhias regulares. Até há bem pouco tempo, com o excesso de mão-de-obra, as empresas costumavam exigir mais experiência.
A própria Anac considera que, mantida a atual configuração da frota de aviões no Brasil, é legítimo supor que em 2010 o número de pilotos privados será insuficiente. O mesmo acontecerá com os pilotos comerciais por volta de 2014 e com os pilotos de linha aérea por volta de 2020. Para a agência, só não é possível afirmar categoricamente que irão faltar pilotos porque as empresas aéreas podem alterar a configuração interna de suas aeronaves para se adequar a um cenário de maior demanda e pouca mão-de-obra.
– A sensação é de que estamos entre uma situação de equilíbrio entre a demanda e a oferta de profissionais e a falta de pilotos e de mecânicos. Por enquanto não há carência no transporte aéreo regular, mas as linhas regionais e os táxis-aéreos já estão sendo afetados – afirma o gerente da Regional Sul da Anac, Roberto de Carvalho Netto.
De acordo com Netto, o fato é preocupante, já que aviação regional é a porta de entrada para quem está começando a carreira e almeja pilotar grandes aeronaves. Formados nos aeroclubes ou cursos superiores de ciências, os pilotos têm que voar um determinado número de horas antes de assumir o comando de uma aeronave de uma companhia regional e, por fim, conquistar uma vaga em uma empresa regular.
– Se diminuirmos o ritmo na base da cadeia, as companhias começam a reduzir os requisitos para a contratação, especialmente em termos de horas de vôo. Daí começam a faltar pilotos nas fases iniciais da carreira, como táxis-aéreos e transporte aéreo regional. E isso a gente já tem observado – diz Netto.
O diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Paulo Ricardo Krepsky, concorda que a possibilidade de faltarem pilotos vai depender do ritmo de crescimento do setor.
– Se continuarmos crescendo nesse ritmo, com certeza serão necessários mais pilotos. Hoje, eu diria que a situação está equilibrada devido ao encolhimento da aviação brasileira após a quebra da Vasp, da Transbrasil e da Varig. Muitos pilotos experientes dessas empresas foram trabalhar fora do país – disse.
Fonte: Jornal Correio do Brasil
4 comentários:
Na verdade, esses "gargalos" são muito antigos, mas só agora se tornaram mais visíveis. Quando entrei na aviação, há 28 anos atrás, já era notório que a proporção de pilotos que se profissionalizava, após concluir o curso de piloto privado (ou mais popularmente o "brevet") era ínfima. Só que isso não aparecia, primeiro por que as empresas permaneceram com seus quadros estagnados por longos períodos, e segundo por que muita gente ainda migrava das forças armadas (principalmente da FAB, é claro) para a aviação comercial. Imagino que hoje isso ocorra com menos freqüência. O equilíbrio que (ainda)existe é ilusório, conforme comentado no artigo, e deve-se à quebra das "empresas tradicionais", se bem que um grande contingente tenha se mudado para o exterior há tempos (incluindo este que vos escreve). Detalhe: mesmo que as empresas brasileiras melhorem salário, benefícios e condições de trabalho, é bem pouco provável que a maioria dos "expats" volte para o Brasil. Primeiro, por que os impostos no Brasil são escorchantes e o retorno social é nenhum. Segundo, por que o custo de vida nas grandes capitais aumentou assustadoramente (principalmente em São Paulo, "hub" de quase todas as cias. aéreas), o que praticamente anula as recentes melhorias salariais, isso sem falar na falta de segurança etc., e por último, por que somos gatos escaldados. Poucos de nós confiam no mercado. Já sofremos mais do que o suficiente com esses "espetáculos do crescimento".
Olá Rafael Matera tudo bem?
Estou fazendo curso de "Comissária de vôo" e diariamente acompanho seu blog, e tenho q ter dar os parabéns! Pelas noticias atualizadas.
Parabéns pelo Comnetário TÃO COMPLETO (pena ter sido anônimo)...não preciso nem opinar!!!
Um abraço
RAFAEL MATERA
Olá Amanda...muito obrigado pelos elogios.
Um abraço
RAFAEL MATERA
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