Às 23h50 do próximo dia 31, um Boeing 767 azul e branco, com uma rosa-dos-ventos dourada estampada na cauda, vai decolar do Aeroporto Charles de Gaulle, nos arredores de Paris. Cumprido o horário, aterrissará em Guarulhos às 6h50 de 1º de setembro. Ao tocar a pista, dará fim à história de 66 anos de operações internacionais da Varig, que desde 1942 representa o Brasil no exterior. O valor simbólico desse último vôo será inigualável para a família Constantino, dona da Gol. Pouco mais de um ano depois de adquirir a concorrente, por 320 milhões de dólares, eles perceberam que, ao cruzar os mares, correram o risco concreto de encerrar prematuramente a própria aventura aérea.
Exagero? Tome-se o balanço da Gol, divulgado na terça-feira 12. O prejuízo no primeiro semestre chegou a 290,9 milhões de reais. No trimestre, a geração de caixa, indicador que mostra o lucro da empresa apenas com a atividade principal, ficou negativa em 243,8 milhões de reais. Ou seja: juntas, as companhias pagaram para voar em 2008. No primeiro semestre de 2007, quando concluía a compra da Varig, anunciada no fim de março, a Gol registrou lucro de 240 milhões de reais. Até então, a empresa era apontada, em todo o mundo, como um dos maiores cases de sucesso da história recente da aviação comercial.
Apontar a Varig como o pivô da crise da Gol é quase obviedade. Uma era o ícone da nova era da aviação brasileira, com administração moderna, estrutura enxuta e resultados gordos. A outra encarnava os velhos problemas do setor, extremamente endividada e com o futuro mais ligado aos tribunais do que aos aeroportos. Difícil é entender o que levou os Constantino – tanto Júnior, presidente da empresa aérea, quanto o experiente Nenê, fundador do grupo – a embarcar no turbulento vôo da ex-concorrente. A explicação existe, segundo fontes ouvidas por CartaCapital, e esbarra no próprio modo de fazer negócio da família, um misto de trabalho, senso de oportunidade e influência política.
Fonte: Carta Capital
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