3.12.08

Após atritos, presidente da Infraero diz que sairá

Sérgio Gaudenzi contesta privatização de aeroportos

O presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, disse, em entrevista exclusiva à Folha, que pediu demissão e ficará no cargo apenas até a indicação do seu substituto, o que ele espera que ocorra até o final deste ano.

Na versão dele, a decisão foi pessoal e deve-se principalmente à sua divergência com a posição do governo de privatizar os grandes aeroportos do país. Segundo ele, "um grande negócio" que tornará a empresa deficitária e irá beneficiar apenas empresários. Em 2007, o aeroporto de Guarulhos, por exemplo, teve lucro de R$ 308 milhões, e o de Campinas, R$ 81 milhões.

Nos bastidores do governo, diz-se que a saída de Gaudenzi foi uma decisão do ministro Nelson Jobim (Defesa), que já teria escolhido o substituto. Seria Guilherme Lagger, ex-Vale e AmBev e atual superintendente da Rede Bahia, empresa da família do ex-senador Antonio Carlos Magalhães, morto no ano passado.

FOLHA - O senhor confirma os rumores de que está deixando a Infraero? 
SÉRGIO GAUDENZI - Acho que se concluiu um ciclo e é hora de sair para que outros tenham a possibilidade de vir a dirigir uma grande empresa.

FOLHA - O que influenciou a sua decisão? 
GAUDENZI - Houve uma divergência com relação a privatização e não-privatização dos aeroportos. Eu tive uma posição muito clara. Senti que era obrigação minha colocar a minha opinião ao presidente [Lula]. Disse ao ministro [Jobim] que, no momento em que senti que estava se encaminhando para a venda de aeroportos, eu era a última pessoa que poderia fazer isso e que me sinto obrigado a sair. Tenho uma posição divergente e, sendo assim, cabe a mim colocar o cargo à disposição. Tem ainda o meu partido, o PSB, que está exigindo que eu volte a disputar eleição e devo ponderar isso.

FOLHA - A expectativa do senhor é que o substituto assuma em 2009? 
GAUDENZI - Eu acho que sim. Para ser candidato [a deputado federal em 2010], eu preciso sair cedo. O ministro Jobim sabe disso.

FOLHA - Por que o senhor é contra a privatização dos aeroportos? 
GAUDENZI - Acho que é um equívoco, temos dez aeroportos rentáveis, dez que se sustentam e mais de 40 que não são rentáveis. A maneira de você operar essa rede é só com compensações. Um aeroporto que é rentável sustenta os que não são. Você separar oito, dez e entregar à iniciativa privada é renunciar uma receita e passar a disputar receita no Orçamento da União com Saúde, Educação, com outras áreas. Se a empresa é superavitária e se basta por que vou entregar esses aeroportos e disputar no Orçamento com áreas que só podem ter recursos dessa fonte?

FOLHA - Essa decisão de vender os aeroportos já está tomada no governo? 
GAUDENZI - Nesta última semana, já voltou-se a falar em Viracopos (Campinas), Galeão (RJ) e Guarulhos (SP), acho que também em Confins (MG). São os aeroportos básicos da rede. Se vender, a empresa vai ser deficitária e vai ficar dependente do Orçamento da União.

FOLHA - A quem interessa a venda dos aeroportos? 
GAUDENZI - É evidente que num negócio desse muita gente deve ter interesse. Poder ser sócio de um grande aeroporto com uma lucratividade enorme, isso é um grande negócio. Não sei o que é que move o governo, só sei que é uma idéia equivocada. No Brasil, aviação também é integração nacional e, em alguns casos, como na Amazônia, de segurança nacional

Fonte: Folha de SP

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