O governo prepara profundas mudanças na Infraero, antes mesmo da definição do modelo de privatização de aeroportos, em estudo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A primeira providência será a substituição do presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, por um executivo do mercado. O mais cotado para assumir o posto é Guilherme Lagger, ex-diretor de Logística da Vale e ex-presidente da Associação Nacional do Transporte Ferroviário (ANTF).
As mudanças não vão se restringir ao comando da estatal. Incluirão, segundo um ministro ouvido pelo Valor, as quatro diretorias e as 28 superintendências da Infraero, além dos administradores dos 67 aeroportos, das 80 unidades de apoio à navegação aérea e dos 32 terminais de logística de carga. Segundo esse ministro, os atuais administradores foram nomeados por indicação política. O propósito do governo, agora, é profissionalizar a gestão da estatal.
"A principal questão da Infraero não é apenas trocar a presidência da empresa, mas estabelecer uma nova governança. Isto significa fazer um movimento mais amplo", contou o ministro, informando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ordenou a reestruturação completa da estatal aeroportuária. Há pouco mais de dois meses, Lula decidiu autorizar os estudos para a privatização dos aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e de Viracopos, em Campinas (SP).
O atual presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, caiu em desgraça depois que passou a criticar abertamente a privatização. Na sua opinião, privatizar é um "retrocesso" porque, segundo ele, a Infraero administra 67 aeroportos, mas apenas 15 são lucrativos. De acordo com Gaudenzi, as receitas geradas pelos aeroportos que dão lucro cobrem os prejuízos dos aeroportos deficitários, mantendo-os em funcionamento.
Indicado para a Infraero pelo PSB, partido que integra a base de apoio ao governo no Congresso, Gaudenzi, que no governo Lula presidiu também a Agência Espacial Brasileira, declarou há duas semanas que não comandaria a privatização de aeroportos. "Caso se decida pela privatização, não sou a pessoa indicada para tocar o processo. Não tem briga nisso. Deixo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, tranqüilo para que me substitua", disse o presidente da Infraero ao jornal "Hoje Em Dia".
A resistência de Gaudenzi à privatização tem sido um dos obstáculos à reestruturação do setor aeroportuário. Ele foi nomeado para a Infraero na esteira do caos aéreo provocado pelos acidentes da Gol, em 2006, e da TAM, em 2007, os maiores já ocorridos no país. No cargo, Gaudenzi lutou contra a privatização - defendida pelo BNDES e pela presidente da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), Solange Vieira - e propôs, como alternativa, a abertura do capital da estatal, medida descartada devido à sua complexidade e também ao desinteresse de investidores privados.
Nos últimos meses, o presidente Lula se irritou com a morosidade da Infraero nas obras de reforma e ampliação de alguns aeroportos. Convencido por dois governadores - Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, e José Serra (PSDB) -, preocupados com a possibilidade de o país não atender aos requisitos de infra-estrutura exigidos para ser a sede da Copa do Mundo de 2014, Lula decidiu mudar radicalmente o rumo nessa área.
"A Infraero, se fosse uma cadeia de lanchonetes, ia se chamar slow-food", brincou um governador, em conversa recente com Lula. "O governo não tem que cuidar mais de aeroporto. Isso as empresas podem fazer. (O governo) tem que cuidar é do ar (do tráfego aéreo), isso, sim, é tarefa exclusiva do Estado", disse o presidente, em tom de desabafo, durante entrevista ao Valor.
O BNDES já iniciou o processo de licitação para a contratação de empresas de consultorias que o auxiliarão na modelagem de privatização dos aeroportos. Há cinco anos, o setor aéreo cresce, no Brasil, a taxas superiores a 10% ao ano. Em 2007, registrou expansão de 11,9% e neste ano, até setembro e comparado a igual período do ano passado, avançou 10,2%. O BNDES estima que o setor de transporte aéreo crescerá, no Brasil, cerca de 7% ao ano nos próximos 15 anos. Por essa razão, a idéia é acelerar os estudos para viabilizar investimentos privados na estrutura aeroportuária.
As mudanças prevêem, entre outras medidas, a adoção de mais aeroportos de conexão ("hubs") - hoje, funcionam assim os de Guarulhos (SP), Congonhas (SP) e Brasília - e a possibilidade de construção de um terceiro aeroporto em São Paulo. O governo quer também descongestionar o tráfego aéreo na capital paulista por meio da expansão do aeroporto de Viracopos, em Campinas, e do aprimoramento dos terminais de cidades vizinhas, como Jundiaí, São José dos Campos, Sorocaba e Santos.
Fonte: Valor Econômico
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