12.3.09

Investimento cai e Infraero sai do vermelho

No ano seguinte ao caos aéreo e a uma CPI no Senado que investigou indícios de corrupção em suas administrações anteriores, a Infraero voltou ao azul. A estatal apresentou lucro líquido de R$ 154,4 milhões em 2008, o primeiro em quatro anos. Foram decisivos no resultado financeiro o aumento das atividades operacionais e a retração de 30% nos investimentos. Os quatro principais projetos de expansão tocados pela Infraero - nos aeroportos de Guarulhos, Vitória, Goiânia e Macapá - foram paralisados por determinação do Tribunal de Contas da União. 

O lucro antes dos investimentos cresceu 42% e fechou o ano passado em R$ 372,7 milhões. A Infraero não é dona dos aeroportos que administra. Todo o sistema de pistas, pátios e terminais pertence à União. Os investimentos são contabilizados como despesas e, por isso, o lucro líquido sempre cai. Mas o indicador melhorou bastante na comparação com 2007, quando foi registrado um prejuízo de R$ 76,3 milhões. O diretor-financeiro da Infraero, Mauro Roberto Pacheco de Lima, explicou que a queda dos investimentos não é por falta de dinheiro. A estatal iniciou projetos considerados prioritários, como a conclusão do segundo terminal de passageiros do Galeão a desapropriação de áreas em Viracopos (Campinas) para a construção da segunda pista. Em 2008, foram investidos R$ 399 milhões, dos quais R$ 278 milhões em recursos próprios- em dois anos, houve queda de quase 62%. Mas, com o reforço de caixa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Infraero conta com R$ 1,4 bilhão para gastar em 2009.

Nos quatro aeroportos que tiveram obras suspensas pelo TCU, Lima adianta que "caminhamos para a rescisão dos contratos". A Infraero, inicialmente, tentou renegociar com as empreiteiras os valores dos contratos assinados, ajustando-os de acordo com o sobrepreço apontado pelo TCU.

No entanto, as construtoras não concordaram em baixar os valores e fechar acordos. No caso do aeroporto de Macapá, o drama foi ainda maior. A Beter, construtora responsável pelas obras, entrou em recuperação judicial. A tendência agora é fazer novas licitações para substituir as empresas.

O diretor lembra que a estatal não só acatou as determinações como mudou o sistema de contratação. Antes, iniciava obras apenas com o projeto básico de engenharia dos aeroportos. Agora, nenhuma construção começa sem ter o projeto executivo, com os custos detalhados, prontos.

De acordo com Lima, após um longo período de descompasso, o crescimento das receitas brutas finalmente superou a expansão do custo dos serviços prestados pela empresa. "Conseguimos equilibrar isso, conforme as diretrizes da nova diretoria", diz. Ele se refere ao grupo que assumiu o comando da estatal em meados de 2007, após o acidente da TAM e a troca de Waldir Pires por Nelson Jobim no Ministério da Defesa. A cúpula da Infraero também foi trocada. Primeiro, a presidência ficou com o ex-deputado Sérgio Gaudenzi, que deixou o cargo em dezembro. Ele foi substituído pelo antigo diretor de operações, brigadeiro Cleonilson Nicácio, uma espécie de presidente "interino de longo prazo".

A receita operacional bruta cresceu 12,7%, para R$ 2,5 bilhões. O movimento de aeronaves apresentou o melhor desempenho desde 2001, com aumento de 4,3%. Lima atribui esse aumento não só ao reforço de frota das aéreas tradicionais, mas principalmente à entrada da Azul no mercado doméstico. O número total de passageiros teve expansão de 2,4% e as cargas (importação e exportação) tiveram alta de 5,1%. Todos esses indicadores estavam com crescimento bem mais robusto até setembro, mas o desaquecimento da economia atingiu em cheio a Infraero a partir do quarto trimestre.

Em janeiro, os resultados não melhoraram. Houve aumento de 2,9% das aeronaves e de 0,3% dos passageiros. Mas o tombo na movimentação de cargas chegou a 34%, sempre em relação a igual período do ano anterior. Em 2009, "pode haver crescimento muito pequeno ou, eventualmente, até queda no número de passageiros", segundo Lima. "Ainda é cedo para dizer."

Os indicadores de produtividade apresentaram evolução, segundo Lima. A receita comercial por empregado foi de R$ 12,2 mil - crescimento de 15% sobre 2007. A receita operacional por passageiro encerrou o ano com R$ 22,50 - aumento de 10%.

Na semana passada, o BNDES deu o pontapé inicial para a abertura de capital da Infraero, ao lançar edital para contratação de uma consultoria que ficará responsável por desenhar a sua reestruturação. Para lançar ações na Bolsa de Valores, a estatal deverá passar por ajustes, inclusive contábeis. Há quem diga que é necessária a incorporação, em seu patrimônio, dos aeroportos hoje pertencentes à União. Lima acredita que isso não é preciso. O essencial, segundo ele, é ter um contrato de concessão com o poder concedente que dê ao investidor segurança sobre o período em que a Infraero manterá a gestão dos aeroportos. Isso trará mais clareza, por exemplo, ao fluxo de caixa futuro, afirma.

Fonte: Valor Econômico

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