A Embraer quer aproveitar a grave crise que atinge os Estados Unidos para crescer com ajuda de dinheiro do contribuinte americano. A empresa pediu isenção de impostos na captação de US$ 27,8 milhões em empréstimos para bancar a construção de sua fábrica de jatinhos na Flórida, dentro de um plano do governo americano para recuperar a economia.
O presidente Barack Obama criou, no ano passado, um programa de quase US$ 800 bilhões em subsídios e investimentos para tirar a economia americana da recessão. A Embraer quer se beneficiar de uma pequena fração desses recursos para financiar, com juros mais baixo, a construção de uma fábrica em Melbourne, no norte da Flórida, um dos Estados mais atingidos pelo estouro da bolha imobiliária no país.
O grande desafio para a nova fábrica da Embraer nos Estados Unidos será encontrar compradores para os aviões executivos, depois que o produto tornou-se um dos mais odiados símbolos dos excessos que levaram à atual crise financeira mundial.
"Os jatos executivos passaram a ser vistos como um brinquedo extravagante nos Estados Unidos", afirma Ernest Edwards, vice-presidente de vendas da Embraer Executive Aircraft, controlada pela empresa brasileira, baseada Fort Lauderdale, localizada a cerca de 50 quilômetros ao norte de Miami. "Mas, aos poucos, as pessoas estão se dando conta que, num país como esse, os jatos são muito importantes para ampliar a produtividade das empresas."
Os Estados Unidos são o maior mercado de jatos executivos do mundo, mas os negócios sofreram um forte baque nos últimos dois anos por causa da crise, que obrigou as empresas a cortarem custos, trocando suas próprias aeronaves por jatos alugados e voos em linhas comerciais.
Para piorar as coisas, em agosto de 2008 os executivos das três principais montadoras de veículos dos Estados Unidos admitiram, em depoimento no Congresso, terem viajado a Washington em três jatinhos diferentes para pedir bilhões de dólares em socorro ao governo. A imprensa americana fez uma verdadeira caça às bruxas, expondo o quanto companhias que demitiam funcionários estavam gastando para manter aeronaves à disposição de seus executivos.
Com isso, o número de pouso e decolagens de jatos executivos nos Estados Unidos caiu 28,5% em dois anos, passando de 4,8 milhões em 2007 para 3,4 milhões de operações em 2009. Nesse início de ano, há alguns sinais de recuperação, mas ainda bastante tímidos.
Diante de um Phenom 100, com preços a partir de US$ 3,5 milhões que se tornou um dos sucessos no portfólio da Embraer, o diretor de manutenção da companhia, Jacques Blondeau, diz que mais cedo ou mais tarde a aviação executiva vai se recuperar. "Os Estados Unidos têm 5,5 mil aeroportos, mas apenas 450 deles são servidos por voos regulares", afirmou o canadense Blondeau, no hangar do centro de manutenção da Embraer de Fort Lauderdale. "Tenho clientes que não conseguiriam acompanhar o que acontece em suas empresas se não tivessem jatos."
Em 2007, um ano antes de estourar a crise econômica mundial, a América do Norte comprou US$ 3,377 bilhões em produtos da Embraer, o que corresponde a 47% das vendas da empresa no mundo todo. Cerca de dois terços dessas receitas vieram da venda de aviões para companhias aéreas.
Já antes da crise a Embraer vinha apostando na diversificação de produtos, como o desenvolvimento de novos jatos executivos e produtos para a área de defesa, e de novos mercados, como Oriente Médio e resto da Ásia.
Mas a nova fábrica da Embraer ganha destaque na Flórida, um dos quatro Estados americanos que mergulharam mais fundo na bolha imobiliária e, hoje, apresenta uma taxa de desemprego de 12%, quase o triplo dos 4,1% observados em 2007. Melbourne fica no norte do Estado e deverá levar mais tempo para se recuperar. Miami, mais ao Sul do Estado, tende a se recuperar mais cedo, puxada pelas suas conexões com países da América Latina, que em geral estão se saindo melhor que os Estados Unidos.
Se tudo der certo, a Embraer pretende começar a contratar os 200 trabalhadores para a fábrica no primeiro trimestre do próximo ano.
Fonte: Valor Econômico
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