Diretor da empresa acredita que grandes
centros urbanos terão sistema de transporte com carros voadores até 2023
Inovação no ar. André Stein, da Embraer X,
trabalha numa espécie de carro voador: “As coisas estão acontecendo mais rápido
que a gente imaginava”
Formado em Engenharia Mecânica pela Unicamp,
com pós-graduação em marketing, André Stein é funcionário de carreira da
Embraer. Em mais de duas décadas na empresa atuou na expansão dos negócios para
a Ásia e, posteriormente, ajudou a implementar o plano de marketing estratégico
para a América Latina. Desde março, ele ocupa a diretoria de estratégia da
Embraer X, um braço da companhia que busca novas oportunidades de negócios com
tecnologias disruptivas.
Uma das principais apostas da subsidiária é
uma espécie de carro voador que ele diz, em entrevista ao GLOBO, não ser um
futuro tão distante. O projeto será o tema da palestra de Stein no Wired Festival,
uma realização de Edições Globo Condé Nast e O GLOBO, com patrocínio da
Embratel, da cervejaria Ambev e de Johnnie Walker, apoio do Grupo Pão de Açúcar
e participação da WeWork. O evento acontece nos dias 30 de novembro e 1º de
dezembro, na Casa França-Brasil e no Centro Cultural Correios, no Centro do
Rio.
É possível imaginar que num futuro próximo
iremos embarcar em aeronaves da Embraer como se fossem táxis?
As coisas estão acontecendo mais rápido que
a gente imaginava. A ideia de voar dentro das cidades não é nova. Santos Dumont
voava em Paris com os seus dirigíveis no início do século passado. Então, a
ideia absolutamente não é nova, mas estão surgindo novas tecnologias que estão
viabilizando isso. Não é apenas uma tecnologia, são várias, que estão
alimentando toda a cadeia. Tem o veículo, o gerenciamento do tráfego aéreo, a
automação na navegação... Tudo isso ajuda a criar um ecossistema. Então, a
resposta é sim, é possível vislumbrar esse futuro.
Em Dubai, já existe esse tipo de serviço em
funcionamento, não é?
Comercialmente, ainda não. Já existem
veículos desse tipo, conhecidos pela sigla eVTOL, de Electric Vertical Take-Off
and Landing, que, popularmente, as pessoas chamam de carros voadores. Nós não
somos os únicos que estamos entrando nesse segmento, e isso é bom, porque ajuda
a movimentar a cadeia inteira. Mas, comercialmente, ainda não tem ninguém
voando.
Em que estágio está o eVTOL da Embraer X?
Está indo bem, mas ainda não existe um
protótipo voando. O que acontece é que muitas start-ups que estão entrando no
mercado correm para fazer o veículo voar. A gente não tem essa preocupação.
Saber voar de maneira segura a gente já sabe muito bem. Nós temos uma parceria
com a Uber, para eventualmente chegar a uma operação comercial em 2023. Mais do
que sermos os primeiros, nós queremos ser os primeiros a acertar.
Se voar não é um desafio, quais as
barreiras que vocês estão enfrentando?
Existem algumas questões tecnológicas que
preocupam bastante. Por exemplo, a bateria. Nós estamos no caminho de construir
um veículo 100% elétrico, porque a gente acredita que isso reduz os custos de
operação, além de reduzir os ruídos e respeitar a questão ambiental. Nesse
sentido, a bateria é um dos grandes desafios tecnológicos. E, se você pensar
que essas aeronaves irão voar dentro de espaços urbanos, o controle de tráfego
aéreo também é desafiador, da mesma forma que a navegação autônoma das
aeronaves.
O design do eVTOL será como o de um drone
gigante?
Seria um misto entre drone e avião. O drone
aproximou essa visão do público, mas temos outras características. Apenas
aumentar o drone não necessariamente vai oferecer um voo seguro. É preciso
trazer conhecimentos da aviação. A nossa configuração, que não necessariamente
é a final, traz características dos drones, mas tem a asa, que é o método mais
eficiente de se voar para frente.
O serviço de táxi aéreo já existe. Qual é o
diferencial desse projeto?
A nossa meta é democratizar a aviação
urbana. Não é pensado apenas para executivos, é para gente como a gente. Pelo
custo, a gente quer algo acessível, para todo mundo. Talvez não seja para você
ir todo dia para o trabalho voando, mas, quando você quiser chegar em casa mais
cedo para o aniversário do seu filho, ele estará lá.
Como serão os pontos de pouso e decolagem?
O eVTOL precisa de alguma infraestrutura
capaz, por exemplo, de recarregá-lo. Ele não vai ser recarregado numa tomada de
110 volts. Então, existirão “vertiportos”. Não necessariamente serão os heliportos
atuais, serão novos “vertiportos”. Existem outras empresas pensando nisso. Os
pontos serão distribuídos pelas cidades, em tamanhos diferentes. Haverá pontos
grandes, para vários veículos, outros menores, para um ou dois.
O Brasil pode ser um dos primeiros a
receber o serviço?
Nós estamos focando em mobilidade aérea
urbana em geral, e a nossa grande parceira é aUber. Eles anunciaram duas
cidades nos EUA para começar os experimentos, Dallas e Los Angeles, e estão
avaliando uma terceira cidade, que, necessariamente, seria fora dos EUA. Cinco
países são considerados: Japão, França, Índia, Austrália e Brasil, com duas
cidades, São Paulo e Rio de Janeiro. São Paulo é o mercado natural para esse
tipo de serviço.
Qual é a importância da Embraer X para a
companhia?
O foco da Embraer X é gerar novos negócios.
E isso a gente consegue fazer de maneira mais ágil. A Embraer X é superenxuta,
são pouquíssimas pessoas, e, sempre que temos um projeto novo, a gente encontra
os recursos necessários, seja dentro ou fora da Embraer. Temos as pratas da
casa, como eu, e profissionais vindos do Vale do Silício. Nós estamos na área
da aeronáutica, mas temos antropólogos, bibliotecários, vários perfis que
ajudam a compor a solução.
Como participar do Wired Festival Brasil
Quando e onde:
A 4ª edição do evento será nos dias 30/11 e
01/12, na Casa França-Brasil e no Centro Cultural Correios, no Centro do Rio.
Quanto custa:
Os ingressos podem ser comprados pela
internet, no site do evento (www.wiredfestival.com.br). Eles custam R$ 75 a
meia entrada para cada dia, sendo R$ 150 o valor inteiro; ou R$ 125, a meia
entrada, e R$ 250 a inteira, pelo pacote dos dois dias. Existe ainda a opção de
ingresso para apenas um turno (manhã ou tarde). A meia entrada custa R$ 50, e a
inteira sai por R$ 100.
Programação:
Entre os destaques estão nomes como Michael
Horvath, cofundador da plataforma para atletas Strava, a futuróloga Anne-Marie
Dahl e James Dahlman, do Instituto de Tecnologia da Geórgia.
https://oglobo.globo.com/economia/nossa-meta-democratizar-aviacao-urbana-diz-executivo-da-embraer-x-23227058
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