12.3.08

Trem de alta velocidade acirra disputa com setor aéreo

Para chegar lá, você ainda precisa pegar um avião. Mas para circular pela Europa os viajantes cada vez mais preferem o trem. As operadoras européias de trens de alta velocidade estão ambiciosamente adicionando rotas e reduzindo os tempos de viagem, na tentativa de roubar clientes do mercado de vôos de curta duração.

A Espanha, que está na dianteira do boom ferroviário, ganhou no mês passado um serviço de alta velocidade que conecta Madri e Barcelona. A viagem foi reduzida em duas horas: agora é de apenas 2 horas e 35 minutos. Em janeiro, a Suíça inaugurou um túnel de 35 km que custou US$ 3,5 bilhões e atravessa os Alpes, o que reduz em 45 a 75 minutos as viagens dentro do país e para a Itália.

A Eurostar Group reduziu em novembro o tempo de viagem de suas populares rotas Londres-Bruxelas e Londres-Paris em 20 minutos (para 1h51 e 2h15, respectivamente). No fim de janeiro, havia mais de 4.000 km de linhas férreas de alta velocidade em construção na Europa, sendo 2.250 km só na Espanha, além de outros 8.500 km planejados, de acordo com a Associação Internacional de Ferrovias.

Os consumidores estão aderindo em bando aos confortáveis e velozes trens - o que provocou uma desaceleração no crescimento das companhias aéreas. A Eurostar registrou um aumento de 15% nas vendas de passagens em 2007, com boa parte do crescimento ocorrendo depois das melhoras nas linhas que partem de Londres. Ao mesmo tempo, o crescimento do tráfego de passageiros em aeroportos do Reino Unido, que foi de 6% ao ano desde os anos 70, foi de apenas 2% nos últimos dois anos, segundo a Autoridade de Aviação Civil britânica. A Ryanair, maior companhia aérea de baixo custo da Europa, advertiu recentemente que o lucro pode cair até 50% no próximo ano fiscal por causa dos altos custos do combustível e da pressão sobre os preços das passagens.

Conforto e conveniência são os principais atrativos das ferrovias. Enquanto os trens oferecem espaço para esticar as pernas, os aviões são cronicamente apertados: um comitê da Câmara dos Lordes do Reino Unido determinou em dezembro que o espaço mínimo para as pernas em aviões deve ser aumentado de 66 cm para 72 cm, em parte por causa da ameaça de trombose. Além disso, como as companhias aéreas barateiras tornaram-se cada vez mais predominantes na Europa, os passageiros estão sendo cobrados para despachar malas, fazer check-in no aeroporto e até para usar cartão de crédito. Já as ferrovias seguiram o caminho inverso, oferecendo mais benefícios.

Os trens da Eurostar têm tomadas e oferecem jornais e revistas a bordo. O TGV Med, um trem francês de alta velocidade que vai de Paris a destinos na costa do Mediterrâneo, tem aparelho de DVD e aluguel de filmes. A SNCF, a ferrovia francesa, vai lançar este ano um serviço noturno voltado aos jovens para Biarritz e para a Riviera francesa chamado IDnight, que terá música, dança e um bar aberto toda a noite. Enquanto isso, os assentos da Ryanair não reclinam e não têm bolsões.

Weldon Thompson, um residente de Helsinque e viajante freqüente de trens, festeja outro conforto: um processo de alfândega mais fácil. Numa recente viagem entre Basiléia, na Suíça, e Frankfurt, na Alemanha, um agente da alfândega embarcou no trem durante uma parada para checar os passageiros, o que os poupou de ter de enfrentar filas, como costuma ser o caso no aeroporto. "Passei pela alfândega sentado no carro-refeitório, almoçando", diz Thompson.
O preço e a estrutura das rotas continuam sendo os reveses das viagens ferroviárias. Dá para viajar mais barato em companhias aéreas de baixo custo em muitas rotas, como Londres a Paris (US$ 112 na easyJet em março, US$ 174 no Eurostar), ainda que a Eurostar tenha dois terços do mercado nessa rota. Apesar dos 5.440 km de linhas de alta velocidade que já operam na Europa, muitas grandes cidades não estão ainda conectadas diretamente. Uma viagem de ida de Amsterdã a Berlim, por exemplo, custa US$ 217 via Rail Europe, uma agência de passagens ferroviárias, e leva seis horas, embora as cidades estejam apenas 560 km distantes. Na Transavia, uma companhia aérea barateira da Holanda, a viagem leva 1 hora e 20 minutos e custa US$ 182 - ida e volta.

Por causa dessas disparidades, algumas pessoas da aviação civil de baixo custo esnobam da concorrência dos trens de alta velocidade. "Não acho que haja nenhuma preocupação de nossa parte", diz Peter Sherrard, diretor de comunicações da Ryanair, observando que a tarifa média da companhia para um vôo de uma hora e meia é o equivalente a US$ 60. "Isso é muito mais barato do que qualquer coisa que os trens estejam oferecendo. Estamos (transportando) mais rápido e a menor custo."

Mas um aumento das tarifas e sobretaxas está fazendo com que as passagens aéreas encareçam. A Ryanair aumentou no mês passado as tarifas para despachar malas e check-in no aeroporto e informou que continuará aumentando até que pelo menos metade de seus passageiros viaje apenas com bagagem de mão e use o check-in gratuito na internet. Taxas de aeroporto e dos governos também fazem com que os custos inflem. Por isso, embora a tarifa ida e volta para um vôo em março da Ryanair entre o aeroporto Stansted, em Londres, e Perpignan, na França, estivesse US$ 78 ontem, o custo com as taxas salta para US$ 143. E isso não inclui uma "tarifa de manuseio" para pagamentos com cartão de crédito.

Fonte: Valor Econômico

Um comentário:

Fabio Scatolini disse...

Esse é o caminho, senhores, para viagens de até 750 Km. Em outubro último, saí do Madison Square Garden em NY extamente na hora marcada, 10:30 da manhã, para Washington. Cheguei 15 minutos antes para o check-in e, mesmo com 3 paradas, o trem chegou na Union Station exatamente na hora marcada, duas horas e meia depois. Se a viagem fosse non-stop, seriam apenas 1 hora e 45 minutos.

A bordo, todo o conforto possível. Cabine pressurizada, ar condicionado perfeito, banheiros imensos, tomadas elétricas e mesas para trabalhar, sem falar nas poltronas e no fato de poder usar o celular todo o tempo. Ja esta em teste o acesso à internet durante a viagem. Quando isso funcionar, vai começar uma pequena revolução nas viagens de curta e média distancias no mundo desenvolvido.